domingo, 8 de março de 2020



O Leopardo- Jo Nesbo



O Leopardo, Jo Nesbo, 5º edição, Record, 2018, Rio de Janeiro
Título original: Panserhjerte , 2009



" Não ouviu nada mas notava uma presença. Como um leopardo.Alguém lhe contara que o leopardo era tão silencioso que podia esgueirar-se para pertinho da presa no escuro, e podia ajustar o fôlego para respirar no mesmo ritmo que você." (pág. 7)

"Passando a língua, ela descobriu que havia pinos saindo da bola e eram estes que pressionavam o céu da boca , a carne macia da parte interna, os dentes, a goela. Ela tentou dizer alguma coisa. Ele escutou com paciência os sons desarticulados que saíam da sua  boca. Quando ela desistiu , ele fez que sim com a cabeça e pegou uma seringa. A gota na ponta da agulha cintilou à luz do lampião. Ele sussurrou no ouvido dela:
- Não mexa no fio" ( pág. 9)

"Era isso a vida: um processo de destruição, uma desintegração de algo que a princípio era perfeito. O único suspense era se seríamos destruídos de repente ou lentamente" (pág. 43)

"Nesbo foi comparado a Stieg Larsson, mas sua narrativa é mais dinâmica, com mais suspense, e surpreende o leitor até a última página" DAILY MIRROR
A citação acima vem na capa da edição a qual eu li.
Mas, embora eu goste imenso de Jo Nesbo, creio que neste caso específico em O Leopardo, a crítica não se aplica.
Embora a narrativa de fato seja dinâmica, ao longo das 599 páginas, o autor se perde ao diminuir o ritmo, quando mantém o foco na vida privada de seus personagens ao invés de mantê-lo na investigação.
Mesmo na investigação a trama , que é bem retorcida, se estende tanto que faz com que o leitor menos experiente se perca num labirinto de personagens, flash backs mal colocados, reviravoltas confusas.
E esse tipo de "deslize" nunca aconteceu com Larsson.
Apesar disso , O Leopardo é um bom livro. Publicado após o grande sucesso de  BONECO DE NEVE, o autor encontrou uma história sinistra digna da franquia JIGSAW.
A capa que ilustra a edição norueguesa traz a Maçã de Leopoldo que é usada como arma diabolicamente construída pelo rei Leopoldo, segundo o livro, e foi diabolicamente usada pelo assassino para matar suas vítimas do sexo feminino.
Harry Hole, depois dos acontecimentos do livro anterior, O Boneco de Neve, isola-se em Hong Kong, mergulhado em ópio e álcool. Na tentativa de autodestruição, ignora o pedido de ajuda que chega de Oslo para investigar a morte de pelo menos três mulheres naquela altura.
Afogadas as duas primeiras no próprio sangue com a Maçã de Leopoldo, e uma terceira vítima enforcada.
Após a agente enviada a Hong Kong convencê-lo a voltar para a Noruega, Hole vê-se em um perigoso caso, mais sórdido que o anterior e precisa estar sóbrio para vencer mais um psicopata.
Sua luta com o álcool se arrasta ao longo do livro, bem como o inconformismo pela perda de Rakel e Oleg desde a saída deles da Noruega.
Para os leitores que acompanham a série, talvez este livro seja o que mais se arrasta, literalmente, aquele em que há picos no ritmo da narrativa, bem intencionadas talvez, mas para o típico leitor de suspense, não funciona.
Mas permanece a dica, a recomendação, pois cada leitor é único e sente as emoções de forma igualmente única, pode ser que eu esteja errada em relação ao livro no que toca ao seu tom deveras prolixo.






terça-feira, 3 de março de 2020

        
                   Mr. Mercedes- Stephen King






Mr. Mercedes, Stephen King, Suma das Letras, 2016, Rio de Janeiro

Título original: Mr.Mercedes, Stephen King, Scribner, 2014, USA


" Lanternas de alta definição, pensou Augie. É um Mercedes-Benz. O que um Mercedes está fazendo em uma feira de empregos?" (pág.16)

"Houve um tempo para ele pensar: Talvez ele desvie.
Essa pareceu ser a melhor chance deles, provavelmente a única. Ele levantou a cabeça para ver o que estava acontecendo mas um pneu enorme consumiu a visão. Ele sentiu a mão da mulher agarrar seu antebraço. Houve tempo de torcer para que o bebê ainda estivesse dormindo. E aí o tempo acabou." ( pág.17)

" Quer fazer contato comigo? Oferecer seu "f, mas feedback"? Experimente o site Under Deebie's Blue Umbrella. Até arrumei um nome de usuário para você: "kermitsapo19" Posso não responder, mas "ei, nunca se sabe" (pág.31)

" Hodges leu que há poços tão fundos na Islândia que você pode jogar uma pedra lá dentro e nunca ouvir o barulho dela batendo na água . Ele acha que algumas almas humanas são assim. " (pág.34)

"Mas Brady acha aposta que o velho policial nunca leu Nietzsche; Brady acha que o cara deve ser o tipo que gosta de John Grisham. Se é que lê alguma coisa. Quando você olha para o abismo, Nietsche escreveu;  o abismo também olha para você.
Eu sou o abismo meu velho. Eu" (pág. 46)

"Brady se pergunta o que Freddie diria se contasse a ela como foi a infância dele
quando matou o irmão . E a mãe o acobertou. 
E por que ela não acobertaria?
Afinal, foi em parte ideia dela" ( pág.49)


" -Apavorante. Você já viu aquele filme sobre o palhaço no esgoto?
Hodges balançou a cabeça. Mais tarde , semanas antes da aposentadoria, ele comprou o DVD do filme, e Pete estava certo. O rosto da máscara era bem parecido com o de Pennywise, o palhaço do filme." (pág. 61)

"Um serial killer esta´servindo sorvete para elas, e elas nem têm ideia" (pág.81)

"Jerome abre e encontra outra subpasta.Gavetas dentro de gavetas, pensa Hodges. Um computador não passa de uma escrivaninha vitoriana, cheia de compartimentos secretos." ( pág.352)

Stephen King escreve bem. Isto já é um dado adquirido. 
O interessante é que o autor,conhecido sobretudo por seus livros de terror, no início e ao longo da carreira, resolveu aventurar-se no romance policial.
Com a trilogia BILL HODGES provou ser um mestre também do policial e do jogo de gato e rato digno da verdadeira história do assassino do Zodíaco.
Há na narrativa o velho e bom espírito de suspense, cativante, viciante até, como poucos autores especializados no gênero policial ainda conservam, como P.D.James, ou Agatha Christie. Para citar os clássicos policiais.
O autor inclusive cita a rainha do crime: " Hodges nunca considerou a ideia de que Mr.Merdedes pudesse ser, na verdade, uma sra. Mercedes. Ele acha tecnicamente possível, e seriaa uma solução bem legal para um romance de Agatha Christie, mas isso é a vida real."
Mr. Mercedes, assim como toda a trilogia entrará com certeza para o roll dos melhores livros escritos por King.
Em uma cidade onde a grande onda de desempregos gera desespero nas famílias, uma grande feira de empregos com boas ofertas é lançada.
Na madrugada muitos desempregados fazem fila, acampam, com o propósito de conseguir apanhar alguma oferta que trará o sustento para a família de volta.
Quando inesperadamente um Mercedes-Benz entra desenfreado feira adentro, atropelando as pessoas, matando algumas e ferindo dezenas.
aliás, lembra muito Christine, o famoso carro assassino cujo livro homônimo foi publicado pela primeira vez em 1983.
A partir deste atropelamento em massa e fuga, a narrativa inicia a caçada pelo condutor, que, por sua vez  tem uma história de vida muito parecida coma de Norman Bates, persongem de Robert Bloch.
A conturbada perseguição e porque não dizer relação, que é criada entre o policial Bill Hodges e Brady Hartsfield, é repleta de reviravoltas de tirar o fôlego.
Com uma gama de personagens interessantes e bem construídos, como por exemplo, a problemática Olivia Trelawney, que sofre com problemas de ordem psicológica como TOC, um leve autismo além de outros distúrbios emocionais; King vai tecendo uma narrativa surpreendente, rica, e inesperada.
Mr. Mercedes com toda certeza fará o leitor ficar fascinado com esta nova faceta de Stephen King.
Os outros dois livros que o seguem, Achados e Perdidos e Último turno, consolidaráo King no genero  policial.
Altamente recomendável.
Boa leitura!
Sugestão: Ler em noites frias e chuvosas, um Café Latte e Scones a acompanhar.

Mr. Mercedes transformou-se em seriado, mas como sempre, o livro é superior
Assista o trailer abaixo.