domingo, 30 de setembro de 2012

    
           Filme do Mês- Setembro

      Strangers on a Train- Alfred
      Hitchcock



Strangers on a train, 1951
Realizador- Alfred Hitchcock
Idioma- Inglês
Brasil- Pacto Sinistro
Portugal- O Desconhecido do Norte Expresso
Duração- 92 min, preto e branco
Atores/ Persongens principais- Farley Ginger( Guy), Robert Walker (Bruno Antony), Ruth Roman( Anne Morton), Leo G. Carrol(Senador Morton), Patricia Hitchcock( Barbara Morton).

Ora, fechando o MÊS HIGHSMITH, escolhi um clássico de Hitchcock adaptado de seu livro "Strangers on a Train"
O filme apresenta basicamente a mesma história do livro de Highsmith, com ligeiras modificações nomeadamente na profissão de Guy, que no filme é um tenista e no livro é arquiteto.
O mesmo personagem no filme assume um papel mais moral, com princípios, os quais prevalecem no momento de cometer o crime para o qual foi designado. No livro, Guy não se fica apenas pela tentação do crime.
A história, já conhecida aqui no blog quando postei o livro, é a de dois estranhos Guy e Bruno que estão no mesmo vagão do comboio, e durante uma conversa, Bruno propõe a Guy um crime perfeito.
Bruno mataria a esposa de Guy e este mataria o pai de Bruno.Como para todos os efeitos ambos não se conhecem, não correriam o risco de haver uma ligação entre os crimes, nem tampouco desconfiança sobre quem os havia cometido.
Concordam em assim o fazer, porém Guy quer retorceder, mas entretanto Bruno já havia cumprido sua parte do acordo.
Tem início um jogo de gato e rato, culpa, remorso, covardia, pressão, chantagem, bem ao estilo Hitchcocok.
A cena final no Parque de Diversões é espetacular, tal qual o carrossel desgovernado do parque, Guy encontra-se num corrupio frenético para deter Bruno a fim de que este não o incrimine.
E de certa forma simboliza o próprio pacto que ambos fizeram, que acabou por fugir ao controle, e agora é uma questão de vida ou morte para os dois.
Um clássico a não perder!














                              
                                 O Trailer do Filme
       
  
                No Café do Senhor Fernando

Well, filme escolhido, é hora de passar pelo Café do Sr. Fernando e dar uma espreitadela no prato do dia...
Sugestão- Sr. Fernando sugere uma pasta italiana com vinho maduro, que é para dar um pouco de cor ás faces de Guy, que parece estar meio pálido com essa história toda de crime e chantagem.
Ótima sugestão Sr.Fernando!
Então bom apetite e bom filme!!!!!

Esparguete à Carbonara

400 g. de esparguete
150 g. de bacon fatiado e picado
3 ovos
3 colheres (sopa) de parmesão ralado
3 colheres (sopa) de queijo pecorino ralado
1 dente de alho
sal
pimenta- do reino
azeite.

1- Refogue o bacon com um fio de azeite em uma panela funda
2- Junte o dente de alho e deixe dourar
3- Descarte o dente de alho
4- Bata os ovos e tempere com sal
5- Cozinhe a massa em água fervente abundante com sal
6- Escorra e, imediatamente, despeje a massa na panela do bacon, juntamente com o ovo batido, uma pitada de pimenta, um colher de parmesão e outra de pecorino.
7- Com o fogo apagado, misture até que os ovos alcancem uma consistência cremosa.
8- Incorpore o restante dos queijos e sirva quente.

(Coleção Cozinhas de Itália- Lazio)







E agora, o tintol para acompanhar.....

domingo, 23 de setembro de 2012



 Lenta, Lentamente ao vento-Patricia Highsmith




Lenta,Lentamente ao vento, Patricia Highsmith, Livros do Brasil, 2000,Lisboa
Título original-Slowly, Slowly in the Wind,1979

Fechando o primeiro mês Highsmith, porque outros seguir-se-ão, trago-vos "Lenta, lentamente ao vento." que é uma coletânea dos contos mais interessantes que já li da autora. Embora, seja suspeitíssima para falar dela.
São contos mais sinistros e amargos que "A Casa Negra", e por incrível que pareça dão a soturna ideia de que pode acontecer-nos a qualquer momento passar por situações descritas no livro.
E, se calhar, teríamos as mesmas atitudes....Mas para isso seria preciso que tivéssemos ultrapassado a fina barreira entre a sanidade e o outro lado...
Examinemos mais de perto três deles....

O LAGO
" - Este lago- começou a dizer, depois interrompeu-se, pois tinha tanto a dizer sobre ele-Mandei drená-lo há alguns dias, mas já está cheio outra vez..."(pág.272)

"Quando olhou para o lago soltou um pequeno grito.As plantas tinham regressado. Pareciam mais fortes que nunca- não mais compridas,na realidade, mas mais densas."(pág.279)


Elinor Sievet muda-se de Nova Iorque para uma casa de campo com o filho por alguns meses após a morte do marido.
No vasto quintal da propriedade havia um lago com uma particularidade desanimadora, mesmo quando era drenado, enchia-se novamente, e para mais plantas esquisitas com raízes contorcidas, não paravam de crescer ao fundo.
Elinor fartava-se de dizer a Chris de apenas quatro anos para manter-se afastado do lago.
A fim de manter o lago limpo, comprou uma carpa mas a água do lago poderia talvez ter alguma substância nociva aos peixes, pois a carpa morreu logo depois.
Intrigada, Elinor volta a chamar so senhores que haviam drenado o lago da primeira dez, para fazê-lo novamente e retirar as plantas.
Ficaram de lá ir no dia seguinte. Entretanto, o pequeno Chris cai no lago e afoga-se com os pés presos nas plantas.
Isto meus caros, é somente o começo da história....
Este conto lembra bastante os bons contos góticos com aquela atmosfera sinistra, inexplicável que nos causa medo sem ter propriamente uma causa forte.
Ficava bem num episódio de Twilight Zone! Ah, se ficava!
Venham conhecer a casa de Elinor, mas mantenham-se loooonge do pequeno lago, sim?

LENTA, LENTAMENTE, AO VENTO...
"O prazer de Skippeton era agora vigiar o campo de milho do seu quarto no primeiro andar com os binóculos x10.Adorava ver o vento agitando as altas hastes de milho em redor do cadáver do velho Frosby(...) Rodopiando lentamente ao vento(...)" (pág.312)

Ora, este conto é um dos meus preferidos do livro, embora quando comecei a lê-lo, pensei que seria mais uma daquelas histórias de brigas entre donos de quinta por seus pedaços de terra, e quando muito aconteceria de um deles acabar por atirar no outro.
Ledo engano....
Se assim fosse, não seria um conto escrito por Patricia Highsmith, não é verdade?
Bem, Skippeton é um senhor de muito mau gênio e natureza agitada, devido a  um ataque cardíaco, tem ordens médicas para retirar-se para o campo, e descansar.Compra então a propriedade Coldstream Heights, no Maine, onde passa a viver.
Margaret, sua única filha, estudava na Suiça e pretendia passar as férias de verão com o pai.
Peter Frosby, possuia uns terrenos contíguos ao seu e Skippeton gostaria de comprá-los, mas o vizinho estava interessado na venda.
Assim começa uma rija entre os dois e com a chegada de Margaret para o verão, as coisas tendem a piorar pois ela apaixona-se pelo filho de Frosby e foge com ele para casarem.
Uma vez que o que não tem remédio, remediado está, o velho Skipp convida Peter para ir lá a casa no domingo de manhã já que agora eram da família. Antes, dispensa o caseiro Andy  fica a sós com Peter.Já planejava mata-lo.
Bem, o assassinato de Peter, é só o começo da história....
Incrivelmente bem engendrado, o conto tem um final surpreendente!
Confira, leitor amigo, mas...cuidado ao passar pelo campo de milho, onde o vento balouça lenta, lentamente....

AQUELAS HORRÍVEIS MADRUGADAS

"Muito sabia Mrs.Crabbe sobre acordar às cinco da manhã com os gritos de uma criança, ou com Stevie ou George a baterem-lhe na cara quando estava a dormir apenas há duas horas e lhe doía o corpo todo.Era nessas alturas que ela ou Eddie lhes batiam.Nessas horríveis madrugadas."(pág. 324)

Confesso que este conto me deixou com náuseas e com uma sensação estanha mesmo depois de acabar de ler.
É talvez um dos contos mais horríveis de Patricia Highsmith, pois trata-se de maus tratos e negligência infantil.
Quem tiver, ou já teve a oportunidade de ler sua biografia,vai descobrir que ela não gostava de crianças.E neste conto, explicita isso.
Porém não é somente de crianças que trata, trata de uma família numerosa, um pai impaciente, uma mãe cansada do casamento, um apartamento pequeno demais para os cinco, e um acidente trágico dentro de casa.
E, o que é mais espantoso é que essas famílias existem, e mães como Laura não são difíceis de encontrar.
Escrito de maneira fria, sem piedade com as palavras, e como sempre perfeito, esse conto, embora tenha me causado más sensações, é um retrato triste de como as famílias são frágeis.








   

domingo, 16 de setembro de 2012



           A Casa Negra- Patricia Highsmith



A Casa Negra, Patricia Highsmith, Livros do Brasil,2000, Lisboa.
Título Original- The Black House,1978.

Este livro traz um total de onze contos, os quais, para variar, estão muito bem escritos, mantendo a sensação de "perigo pessoal", e mantendo também por um fio a linha que separa a sanidade da loucura, pessoas comuns como o leitor e vá lá, eu, que num movimento de olhos comete um ato atroz.
Pessoas que trabalham, comem, tem família, chefes de família, mães, amigos, simplesmente pessoas que por um motivo ou outro, se veem fora de controle.
Isto é Patricia Highsmith, e esse seu "A Casa Negra" atesta esta afirmação.
Venham, sejam espectadores por hora, porque nunca se sabe quando um espectador passará a ação.
Vamos ver o que eles contam:

O Que o Gato Trouxe para Casa
"- São dedos humanos!- disse Phyllis.- Olhem!
Todos olharam, afastando-se lentamente, incrédulos, da mesa de jogo.O gato olhou,orgulhoso, para os rostos dos quatro humanos virados para baixo. Glayds susteve a respiração.' (pág.10)

Neste conto quatro pessoas estão a jogar Scrabble, Michael e Gladys Herbert, o Coronel Edward Phelps e sua sobrinha, Phyllis em casa dos Herbert.
Bem no meio do jogo, o gato do casal, entra vindo de seu passeio e lança ao chão sua caçada do dia: quatro dedos humanos.
Chocados, ficam a confabular se chamam a polícia ou não e acabam por guardar os dedos numa caixa de sapatos no armário para que o gato não lhes chegue.
Entretanto, em um dos dedos havia um anel coma as iniciais W.R-M.T, na manhã seguinte Mr. Herbert começa a perguntar como quem não quer a coisa se alguém tinha sido dado como desparecido e descobre na Mercearia que Bill Reeves tinha desaparecido.
Bill Reeves era trabalhador na propriedade de Mr. Dickenson, e por sinal a esposa deste havia deixado a cidade.
Quando Mr. Dickenson é confrontado com o desaparecimento de seu empregado, tem uma boa história para contar. E acreditem, pode acontecer a qualquer um de nós.

Sob o Olhar de Um Anjo Negro

"Quanto tempo passara, nove, não, dez anos desde que estivera em Arlington Hills.Há dez anos atrás tinha vindo visitar a mãe ao lar de terceira idade chamado Hearthside e ela não o reconhecera ou fingira não o reconhecer ou pensara que ele realmente era outra pessoa." (pág.61)

Lee, um senhor de cinquenta anos, volta a pequena cidade de Arlington Hills, onde crescera, para vender a casa da mãe a fim de suportar as despesas do lar onde sua mãe estava interna há dez anos.
As despesas eram avultadas e há dez anos ele pagava ao amigo e procurador da mãe, Win, que por sua vez pagava o Lar.
Ficando hospedado em casa de Win e Kate, Lee fecha o negócio da venda da  casa. Ao sair para um passeio pela manhã, encontra um velho conhecido,Charlie Ritchie, e conversa vai, conversa vem, faz uma descoberta terrível.
Seria Will, seu amigo, procurador de sua mãe, pessoa de sua confiança, capaz de um ato tão cruel para com ele?
Para descobrir, só mesmo lendo. Vale à pena.

A Casa Negra

" Uma casa abandonada de três andares erguia-se, negra, no horizonte de Canfield, uma cidade de tamanho médio a norte do estado de Nova Iorque, cuja indústria consistia principalmente em fábricas de papel e curtumes, uma vez que a cidade era atravessada por um rio"(pag.215)

Timothy Porter, novo funcionário da fábrica de curtumes, havia saído da pequena cidade de Canfield para tentar a vida em Nova Iorque. Contudo regressara a cidade natal e vivia num quarto alugado em casa do tio.
Costumava frequentar o bar White Horse, onde todos se reuniam depois de um dia de trabalho ou aos domingos.
Foi lá que ouviu as histórias de Frank e Ed sobre a Casa Negra, uma velha casa isolada e abandonada que segundo os moradores mais antigos, tinha sido palco de um assassinato, onde os rapazes Frank por exemplo tinha levado uma rapariga para passar lá a noite com ele na juventude.
Tim decide fazer uma visita a Casa, a primeira vez, somente ronda a casa e não entra, na segunda, percorre todos os quartos, todos os cômodos, e não acha nada de especial é uma casa velha como as outras.
No dia seguinte conta aos rapazes que lá tinha estado e que não encontrara Nada de nada e riu-se.
Frank porém chama-o para uma conversa do lado de fora do bar com cara de poucos amigos...
Tim fica atónito sem entender que para os moradores A Casa Negra era um mito, um tabu, quase uma coisa sagrada para eles, e Frank não ia deixar por menos que alguém dissesse o contrário.
Perfeito conto centrado na mentalidade das pequenas cidades, com seus mitos urbanos, retrata bem o tipo de pessoas para as quais mais vale ter uma boa história para contar para impressionar os amigos que não ter nada de nada.

O livro traz ainda os não menos interessantes: Nunca foi um de nós, Os Terrores de cestaria, Desprezo a tua vida, O Sonho de Emma C, Velhotes em Casa, Em Roma, Tudo estragado, O Papagaio de Papel.

         
                  A Série Chillers produziu What The Cat Brought it in

                      

domingo, 9 de setembro de 2012

 
    O Desconhecido do Norte Expresso- Patricia  Highsmith
                           
                

                        

O Desconhecido do Norte Expresso, Patricia Highsmith,Público, 2005, Porto,Colecção 9mm.
Título Original- Strangers on a Train, 1950.

"- Tive uma idéia- exclamou Bruno, batendo palmas.- Eu mato a sua mulher e você mata o meu pai! Encontramo-nos por acaso no comboio e ninguém sabe que nos conhecemos.É um álibi perfeito. Está a perceber?" (Pág.35)

"- Não é tão simples como isso! As pessoas, os sentimentos, tudo tem duas facetas! Em todos nós há dois seres completamente opostos, como um duplo que se não veja exista em nós. Que espera, emboscado, a oportunidade de se manifestar."(pág.279)

"Guy conseguira responder todas as perguntas sem se perturbar.Os pormenores da desaparição do corpo pareceram-lhe bem simples."(pág.298)


"Strangers on a Train" foi o livro que catapultou Patricia Highsmith para o reconhecimento e para a fama, depois de ser adaptado por Hitchcock para o cinema.
Na minha opinião, um dos melhores e diabólicos da autora, embora a série Ripley seja muito boa também. Sem falar dos contos,brilhantes por sinal.
Escrito durante sua estadia na colônia para artistas em Yado, NY, o livro narra a história de dois estranhos que se encontram por acaso(?) em um vagão de comboio. Bruno e Guy.
Ambos precisam livrar-se de uma pessoa que atravanca suas vidas. Ambos dariam tudo para que essas pessoas desaparecessem.
Guy gostaria ver-se livre de sua esposa e Bruno, de seu pai.
Um pacto é feito entre os dois: Bruno mataria a esposa de Guy e este mataria o pai de Bruno.
Porém um deles, Guy, arrepende-se e quer voltar atrás, mas Bruno já havia cumprido sua parte do acordo.
A partir deste ponto, a trama assume contornos diabólicos e tortuosos, com chantagem, pressão, culpa, que vai culminar como é óbvio, em uma roleta russa na qual só haverá um vencedor. E nem sempre poderá ser o mais óbvio.
Os personagens aqui divididos em elo mais fraco e mais forte, contrastam de maneira perfeita. Nisto, Patricia é mestre, em expor as fraquezas e perversidades do ser humano como quem narra uma história infantil.
Escrito magistralmente, com doses de tensão, perversidade, e suspense, é leitura obrigatória para quem gostar de um ótimo suspense.
"O Desconhecido do Norte Expresso" foi adaptado para o cinema pelas mãos do não menos genial, Alfred Hitchcok em 1953.





  
                                       Trailler do filme, 1953
                  

terça-feira, 4 de setembro de 2012


 Mês Patricia Highsmith 

Este Mês aqui no blog as postagens serão sobre vida e obra de Patricia Highsmith, uma pequena homenagem a uma grande escritora. Nem sempre compreendida, mas de uma escrita desconcertante e cruel, uma escrita para poucos. Neste mês, alguns dos seus trabalhos e um pouco de sua vida literária. Não será propriamente uma biografia posto que a biografia de Highsmith  terá sua postagem mais adiante no blog com o livro A TALENTOSA HIGHSMITH e A BEAUTIFUL SHADOW. Boa viagem!

Antes de embarcar na viagem, convém ler uma breve citação de sua biógrafa, Joan Schenkar: "Nenhuma das narrativas de Patricia se presta como leitura para hora de dormir", alerta Joan. "O trabalho dela pertence ao fundo da sacola do Sandman, onde todos os sonhos ruins ficam guardados. Enquanto muito literalmente sua escrita lhe preserva a própria vida, ela de maneira bem figurada nos coloca em risco." 







"Nenhuma das narrativas de Patricia se presta como leitura para a hora de dormir' (Joan Schenkar)
                  Algumas opiniões sobre Patricia Highsmith




Escreveu quase sempre sobre o lado mais sombrio dos homens. Histórias de gente normal que explodem em estranhas e improváveis perversidades. 
As suas histórias perturbam, lançam na perplexidade uma imensa bateria de leitores. Os contos e romances transpiram uma ameaça generalizada e subtil, a sugestão de que as personagens, escudadas em comportamentos socialmente aceites, escondem motivações pouco ortodoxas.
As raízes desta predisposição para escrever sobre o horror disfarçado de normalidade remontam os tempos não muito felizes da infância e adolescência.
Mary Patricia Plangman Highsmith nasceu em 19 de Janeiro de 1921, no estado do Texas. Os pais se separaram cinco meses antes de ela nascer.
Foi criada pela avó materna até os seis anos no Texas.
Muda-se para Nova Yorque com a mãe e o padrasto. A família passa a viver numa pequena casa em Manhattan. Patricia dormia na sala e era obrigada a escutar as inúmeras discussões entre o casal. Encontra refúgio nas obras de Dostoiévsky e Charles Dickens mas há um livro que vai definitivamente marcar sua visão do mundo e consequentemente da sua futura carreira literária:The Human Mind,de Karl Meninger, um estudo sobre "cleptómanos, pirómanos, assassinos em série, retratava tudo quanto pudesse correr mal na mente humana. O facto de se tratar de casos reais tornava-os mais interessantes do que os contos infantis.Verifiquei que essas pessoas tinham uma aparência perfeitamente normal e que também podiam existir à minha volta."
Depois de passar nos exames para a Universidade, decide sair de casa e o seu primeiro emprego é fazer textos para bandas desenhadas, nomeadamente Super Homem e Batman.
No período de 1944 e 1948, Patricia continua a dedicar-se a textos para banda desenhada e escreve inúmeros contos. Começa a escrever Strangers on a Train, e quando o romance vai a meio, a agente artística de Patricia apresenta-o a várias editoras,  recebendo seis recusas de publicação. Truman Capote ajuda-a a entrar em Yado, uma colónia de artistas em Nova Iorque, e aí termina o romance. Finalmente, uma editora compra o manuscrito e publica-o em 1950. Algumas semanas após a publicação, Alfred Hitchcock adquire os direitos de adaptação cinematográfica por 6800 dólares.
Já na Europa,no Sul da Itália,em Positano aluga uma casa e esboça mentalmente o modelo para a figura de Ripley, a sua personagem fetiche.
A idéia ganha forma. finda a viagem européia, dedica-se a desenvolver a história e em 1955 é publicado The Talented Mr. Ripley provavelmente um  dos mais conhecidos romances da autora.
Instalando-se na Europa definitivamente em 1963, viveu em Inglaterra até 1966, mudou-se depois para a França onde ficou até 1982, data a partir da qual escolhe a Suiça para residência definitiva até a morte, em 4 de Fevereiro de 1955.
(adaptado da Revista Grande Reportagem, nº 126,Setembro de 2001)
                                            

domingo, 2 de setembro de 2012

                  
         O Álibi Perfeito - Patricia Highsmith










O Álibi Perfeito, Patricia Highsmith, Abril/Controljornal/Edipresse, 2000,Linda-a-Velha, Colecção Lipton.
Título Original- The Perfect Alibi.

"O Álibi Perfeito" traz cinco deliciosos contos que certamente irão surpreender o leitor. Patricia Highsmith condensou neste "clube dos cinco" ironia para dar e vender.
Em cada um deles a autora parece ter uma tesoura afiada nas mãos e inesperadamente faz um corte na linha de união entre o texto e o leitor, deixando este último "pendurado" e incrédulo. Como se dissesse: " o que se passou aqui?"
Li há dias por aí na net que o livro era "fraquinho fraquinho" e que a pessoa não recomendava a ninguém. Creio que para quem sofreu uma lavagem cerebral chamada Nora Roberts, fica difícil achar outro livro superior a essa escritora perfeita. Ainda para mais se a imagem escolhida para definir seu  perfil é um traseiro, está tudo dito. 
Alguns pontos em comum entre os cinco: a obssessiva alusão ás horas, os crimes por motivos passionais ou o famoso "ódio de estimação", o elemento inesperado, a falsa certeza de ter os atos sobre controle, enredos engenhosos.
Aqui não é o crime propriamente que interessa, posto que a partida já foi cometido, mas como safar-se  dele.
Vamos a eles:
O ÁLIBI PERFEITO- The Perfect Alibi.

" Concentrou-se mentalmente, fazendo uma revisão de tudo, tentando descobrir se cometera algum erro." (pag.8)

"- Mr.Quinn- disse o capitão em voz mais alta- às cinco e quarenta e cinco desta tarde, o senhor atropelou um homem na esquina da Oitava Avenida com a Rua 68 e fugiu. Não é assim? (pág.17)"

"As suas acusações não se aguentariam porque ele tinha um álibi, um álibi perfeito." (pág. 25)

Mr. Howard Quinn  comete um assassinato a sangue frio em plena luz do dia, perto de uma saída de metro.
Consegue sair calmamente no meio da multidão direto a seu apartamento a fim de queimar o sobretudo que usava, que para além de sangue, tinha o furo feito pela bala ao sair do revólver.
A vítima, George Fritzell, fazia parte do triangulo amoroso formado por Mr. Howard, George e Mary.
Para Howard, Mary queria que o assassinato ocorresse, e ele o fez acontecer.
Quando procurado pela polícia, Howard descobre que tem um álibi perfeito a conta de um engano com a matrícula de seu carro, estacionado a poucos metros do local do crime.
Porém, como Howard não é Tom Ripley....será que seu álibi é suficientemente perfeito e seguro?????

NÃO SE PODE CONFIAR EM NINGUÉM- You can't depend on anybody

" Na sexta feira à tarde,  Claude sabia exatamente como seria.
Ralph Carpenter iria visitar Lola às 3.00 de domingo e ter-se-ia ido embora às 4.00- sem a mínima dúvida, porque tinha que apanhar um comboio às 4.00, dissera ela. Claude iria a casa de Lola por volta das 4:10, matá-la-ia com a estatueta do gato ou com qualquer outra coisa pesada que tivesse à mão, deixaria o apartamento, a criada de Lola chegaria às 5:00 e encontraria o corpo. As impressões digitais de ralph estariam por toda a parte-(...)"(pág.26)


Este conto chega a ser hilário, salvo seja....Agatha Christie certamente iria gostar dele.
Claude vive um verdadeiro inferno enquanto espera que alguém vá checar o apartamento de sua esposa, Lola, assassinada por ele, mas com a intenção de imputar o crime ao amigo Ralph.
No final, Patricia Highsmith parece nos dizer mais uma vez que quem não é Tom Ripley não leva a melhor fatia do bolo, mas pelo menos leva com a cereja em cima do bolo como diz minha amiga Teresa.
Seria hilário, se não fosse ligeiramente trágico.

VARIAÇÕES DE UM JOGO- Variations on a Game

"Penn tentou manter a calma.
- Precisamente, ia deixar o meu trabalho para sair dessa situação! Ontem eu disse ao senhor Ostrander que me ia embora e tinha dito o mesmo à mulher um dia antes.
- Assim, admite que havia uma situação." (pág.55)

Como o nome dá a entender, o conto traz elementos de um jogo, no caso um jogo de gato e rato, rocambolesco por sinal.
Mr. Penn, secretário de David, que era escritor de ficção científica, apaixona-se por sua esposa Ginnie. Não querendo ser rompe-matrimônios, apesar de eles já terem um "affair", decide pedir demissão do cargo e ir-se embora.
Entretanto resolve terminar um último trabalho e vai de fim de semana com David a fim de o fazer.
Um dia antes Penn comunicara a Ginnie sua decisão de ir embora e durante o caminho no fim de semana, o dissera a David.
David surpreende o amigo quando diz que já sabia do romance dele com sua esposa.
Depois de um clima tenso entre eles, David desaparece durante a noite. Na manhã seguinte Penn é tido como suspeito do desaparecimento, pois Ginnie tinha dito a polícia que Penn gostaria de ver David morto.
A partir dessa mentira, o enredo transforma-se num verdadeiro jogo de intrigas a ver qual dos três escorrega primeiro.
No final um volte face inicia um novo jogo dessa vez somente entre dois jogadores.
Bem ao estilo Highsmith!

UMA SEGURANÇA ASSENTE EM NÚMEROS- A Safety in Numbers

" O pai era detestado pelos três. Era como um ogro num conto de fadas, desagradável, autoritário e avarento também, incrivelmente avarento.
Juntos, escolheram dar-lhe um empurrão fatal pelas escadas abaixo." (pág.63)

Três filhos, Joel, Mary e Laura decidem matar o pai, Mr. Gordon e forjar um acidente.
Mr. Gordon sempre fora tirano e desumano no tratamento com as pessoas, nomeadamente para com a mãe deles que viera falecer de pneumonia.
Num fim de semana de Outubro, na casa de campo da família, os filhos levam adiante o plano e empurram o pai do cimo das escadas.
Morte instantânea. Um acidente perfeito. Sem testemunhas.
Apesar do testamento e da apólice de seguros contra acidentes que Gordon tinha, os filhos aparentemente não deram importância ao dinheiro.
Os números deixados pelo pai e o destino do prémio do seguro davam aos três a segurança necessária para o crime perfeito.
Engenhoso.

MAQUINAÇÕES- Sauce for the Goose

" - Tocaste em alguma coisa dessa estante ultimamente?
- Não, porquê?
- Porque...bem, tudo estava posto de maneira que caísse, querida." (pág.80)

Neste conto, outro triângulo amoroso é o motivo do crime. Olivia,esposa de Loren, tem um casamento aborrecido e interessa-se por Stephen, ator de teatro.
Pede o divórcio, o marido propõe um prazo de três meses, no qual os amantes não se veriam, e caso após três meses ainda sentissem o mesmo ele daria o divórcio ( tortuoso, diga-se de passagem). Assim foi feito.
Olivia entretanto mata "acidentalmente" o marido e casa-se com Stephen.
Mas como diz o ditado " sauce for the goose is sauce for the gander", após o casamento as coisas mudam um pouco de figura, ou melhor, de posição.
Olivia começa a desconfiar que Stephen quer livrar-se dela, e passa a isolar-se dentro da própria casa com medo do marido.
Na cave, havia um grande congelador onde o casal mantinha suprimentos justamente para não terem que ir constantemente ao supermercado.
Pois bem...
O final desse conto é muito bem engendrado... muito bom!




A Série "Chillers" traz um episódio com o conto "Sauce for the Goose"