segunda-feira, 29 de outubro de 2012

   
        As Quatro Últimas Coisas- Andrew Taylor





As Quatro Últimas Coisas, Andrew Taylor, Asa, 2003, Porto.
Título original- The Four Last  Things, 1997.

"...tão pouco posso pensar que possuo a verdadeira Teoria da morte, quando contemplo uma caveira ou observo um Esqueleto...portanto, alarguei esse comum Memento quattuor Novissima, esses quatro pontos inevitáveis de todos nós, a Morte, o Juízo, o Paraíso e o Inferno."

                 Sir Thomas Browne, Religio Medici (1642), Parte I, Secção 45


Ora bem, para quem gosta de mistério envolvendo textos bíblicos ou escatológicos, esse livro pode ser uma boa opção.
Embora, devo avisar, já li melhores, como por exemplo, O Clube Mefisto, já comentado aqui no blog.
A história passa-se na Inglaterra, tendo por personagens Sally, uma vigária que luta contra o preconceito da ordenação das mulheres, seu marido Michael, policial, e a pequena Lucy, raptada por Angel e Eddie.
Angel aparece na vida de Eddie quando aluga um quarto em sua casa, na altura a mãe dele ainda era viva, no início tudo parece uma valsa de Strauss, mas com o passar do tempo, Thelma, mãe de Eddie, começa a desconfiar de Angel, de seu passado e de que o filho estaria interessado nela.
Não tarda muito para Angel aperceber-se das desconfianças e toma suas providências.
Ao enterrar a mãe, Eddie passa a ser dono da casa que passa a ser partilhada com Angel que inicia uma reforma na cave da casa tornando-a insonorizada.
A partir deste ponto, ficamos a saber que Eddie tem um passado de pedofilia, Angel é uma assassina em série de crianças  sobretudo.
Enquanto os pais da menina tentam encontrá-la, Eddie deixa-se enternecer por Lucy, e imagina uma maneira de tirá-la do cativeiro e devolvê-la aos pais.
Essa tarefa terá consequências violentas e trágicas para alguns dos personagens.
Embora bem escrito, creio que o livro poderia ter sido melhor, mais detalhes e mais suspense. 
Diria que é uma leitura morna, para passar o tempo ou ler na praia.
É isso.

domingo, 21 de outubro de 2012



           Trocas Macabras- Stephen King





Trocas Macabras, Stephen King, Francisco Alves, 1992, Rio de Janeiro.
Título original- Needful Things, 1991.

"Você não poderia te escolhido dia melhor para voltar a Castle Rock"(Pág.11)

"- Esta figurinha tem dois preços,Brian. Metade...e metade. Uma metade em dinheiro. A outra, um favor. Você me entende?"(Pág.36)

" O sininho acima da porta tilintou e duas outras senhoras entraram.
Em Coisas Necessárias, começava o primeiro dia completo de negócios."(pág.48)

Bem, mais uma vez vou manifestar meu desagrado com a tradução brasileira do título do livro,poderia muito bem ter sido traduzido como "Coisas Necessárias", o que se aproxima mais do enredo e ficaria melhor, esse título que o livro levou pode dar uma errada ideia sobre ele, e é por isso que eu continuo preferindo as edições portuguesas....Enfim....
Needful Things é o último livro de King em Castle Rock, o que é uma pena para os fãs, já que ela foi cenário de tantas outras histórias como por exemplo Cujo, O cão da Polaroid, Saco de Ossos, Zona Morta.
Nesta última história em Castle Rock, Leland Gaunt, vindo sabe-se lá de onde, instala-se na cidade e abre uma curiosa loja de antiguidades, por assim dizer. A loja, chamada Coisas Necessárias, vendia de tudo um pouco, sempre havia o objeto certo para cada morador da pequena e pacata cidade.
As fantasias, os desejos mais ocultos, são realizados com a compra de determinado objeto, cada morador, ou pelo menos os que visitam a loja, realiza seu sonho mais secreto com uma simples compra.
Porém há um preço a pagar....
Gaunt cobra seus clientes de duas formas, uma em dinheiro e a outra com um pequeno favor, pede sempre a cada um que faça uma  "inofensiva" travessura com a pessoa que ele determinar, nada grave, apenas uma partida, como no Halloween, gostosuras ou travessuras, mais ou menos isso.
Caso não cumpram sua parte do acordo, seus objetos ser-lhes-ão restituídos, e claro isso ninguém gostaria que acontecesse....
Tais travessuras, vão desencadear uma série de acontecimentos violentos e cruéis, semeando o caos e destruição em Castle Rock.
Como a Teoria do Caos, só que no mesmo local.
Mas afinal quem é de fato, Leland Gaunt? De onde veio? Seria ele um colecionador de antiguidades (aliás há uma forte semelhança entre ele e o personagem de Salem's Lot, o senhor Strawker)ou um colecionador de almas?
Com personagens interessantes, cada qual com sua microbiografia contada magistralmente pelo autor, o livro tem uma solidez invejável, as vidas dos personagens seus sonhos, frustrações, segredos são vasculhados ao pormenor o que confere a narrativa um tom acolhedor no meio ao horror.
Para quem vai deixar a cidade de vez, essa foi uma boa despedida!
Leitura super recomendada!

O livro foi adaptado para o cinema em 1993 veja a primeira parte:


sábado, 13 de outubro de 2012


  Antes do Baile Verde- Lygia Fagundes Telles

                     Venha ver o Pôr do Sol



Antes do Baile Verde, Lygia fagundes Telles, Companhia das Letras,2009,São Paulo.
Publicado pela primeira vez em 1970.

" _ Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto.Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos, uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda- o musgo já cobriu o nome da pedra.Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas...Esta, a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer.Nem isso" (pág.139)

Ora, alguém mais desavisado podeira achar estranho este livro num blog cujo tema não tem muito a ver com ele. Nem tampouco a autora, senhora respeitável das Letras Brasileiras, aqui, juntamente com Stephen King, Patricia Cornwell, Edgar Allan Poe...
Pois foi exatamente neste último, que Lygia Fagundes Telles deve ter se inspirado para escrever "Venha ver o Pôr do Sol". Com certeza o leitor deve já ter lido o conto clássico de Edgar Allan Poe, "O Barril de Amontillado", se tiver um pouco de paciência e comparar os dois contos, com um mínimo de conhecimento da estrutura narrativa e intertextualidade vai chegar à mesma conclusão com facilidade.
"Venha ver o Pôr do Sol" é um conto de terror que em nada fica a dever a Poe, está muito bem escrito com todos os componentes clássicos de um bom conto de terror.
O terror aqui não é senão o terror da morte, de ser enterrado vivo, tantas vezes explorado por pelo autor de "A Queda da Casa de Usher".
A apavorante ideia de ser enterrado vivo nem sequer passa pela cabeça da personagem Raquel quando é convidada por Ricardo, seu ex namorado para um último( neste caso literalmente) pôr do sol juntos....
Romântico? Não, meus caros, sinistro e perverso, engendrado a sangue frio, como só um psicopata é capaz de fazer, pacientes....eles todos são extremamente pacientes....Há tempo....
A descrição do ambiente está bastante minunciosa e como sempre, Lygia trabalha o psicológico como ninguém, portanto terão aqui uma descrição perfeita do ambiente físico que inteligentemente se funde com a atmosfera psicológica dos personagens.
A autora deixa escapar traços da personalidade de Ricardo que juntos são pistas para o leitor adivinhar suas intenções para com Raquel...
O conto mostra que para certas pessoas, levar uma vingança a cabo é a única coisa que importa.
Um conto arrepiante digno de constar nas antologias de contos de terror, se quiser saber o quão perfeito ele é, basta lê-lo, de preferência longe de lugares afastados da civilização, escolha um lugar em que possa gritar e pedir ajuda, tendo a certeza de que o ouvirão.....



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

     As dez Figuras Negras- Agatha Christie






As Dez Figuras Negras, Agatha Christie, RBA, 2008, Espanha.
Título Original- And Then there were None, 1939.

"Ten little soldier boys went out to dine;

One choked his little self and then there were Nine.



Nine little soldier boys sat up very late;

One overslept himself anda then there were Eight.

Eight little soldier boys travelling to Devon;

One said he'd stay there and then there were Seven.

Seven little soldier boys chopping sticks;

One chopped himself in halves and then there were Six.

Six little soldier boys playing with a hive;

A bumble bee stung one and then there were Five.

Five litlle soldier boys going for law;

One got in Chancery and then there were Four.

Four little soldier boys going out to sea;

A red herring swallowed one and then there were Three.

Three little soldier boys walking in the Zoo;

A big bear hugged one and then there were Two.

Two little soldier boys sitting in the sun

One got frizzled up and then there were One.

One little soldier boy left alone;

He went and hanged himself

And then there were None." 
                                             (Frank Green, 1869)

Recordo-me bem da primeira vez que li este livro, tinha então 14 anos e fiquei muito impressionada com a trama.Tinha eu uma imaginação fértil( o que graças a Deus ainda conservo) e fiquei a imaginar o  misterioso assassino a caminhar pelos corredores da mansão, no andar onde ficavam os quartos pela noite dentro...
Era uma edição de capa amarela, retirada da Biblioteca municipal em Ilicínea, MG, onde vivíamos na altura. Boa gastronomia, diga-se de passagem....rs
A última vez que o li ( e ainda vou relê-lo com toda certeza) foi em 2009, uma edição portuguesa (essa que aí figura) e o livro voltou a me impressionar, dessa vez por outros motivos, outros pormenores que só a experiência de outras leituras e a idade pode nos fazer ver. Brilhante!
Talvez seja este o livro de Agatha Christie de que mais gosto, porque sendo eu dada às leituras voltadas para o horror gótico, ele reúne além do suspense que imortalizou a autora  lhe concedeu o epíteto de "Rainha Do Crime", também reúne elementos fantasmagóricos como o isolamento da Ilha, a enorme mansão, a costa do Devon e seus ruídos noturnos e nevoeiro,toda uma aura de perigo iminente, o ser desconhecido que controla as pessoas acossadas na Ilha...
Desta vez não há cá o humor britânico de Poirot ou Miss Marple, ou mesmo de Tuppence,que sempre dão graça ás situações criadas pela autora.
Há somente um velho e sinistro poema infantil a guiar um assassino implacável.
Escrito de forma impecável, a trama inteligente não apenas prenderá o leitor, como o fará questionar-se de onde virá a sensação de estremecimento interior que com certeza irá sentir ao longo das páginas.
Ora, imagine-se isolado numa ilha com pessoas que não conhece, as quais como você, foram convidadas através de cartas, por um homem igualmente incógnito que se calhar nem é real.
Você e as outras nove pessoas são comodamente instaladas numa mansão
na ilha, na qual tem que fica á mercê de um desconhecido.
Então pouco a pouco estas pessoas vão sendo eliminadas uma a uma de acordo com um velho poema infantil ( o que está escrito em inglês logo acima)
Cada verso equivale a uma morte e a cada morte, uma das dez figuras negras que enfeitam a sala de estar desaparece.
A tensão, o medo primitivo, a desconfiança, vão preenchendo os dias das pessoas que restam e consequentemente, o descontrole emocional toma a cena para si.
Torna-se cada vez mais impossível manter o sangue frio, o raciocínio lógico e a calma necessários para proteger-se da morte que se acerca, ou mesmo para tentar fugir da ilha.
Quem será o último a ser eliminado?
Quem os enviou à Ilha do Negro?
Quem os está a matar?
Qual a relação entre aquelas dez pessoas escolhidas?
Para obter a resposta para esta e outras perguntas, terá que embarcar com eles e ser levado até a Ilha do Negro, à Costa do Devon.....
And then......

Esta postagem é dedicada a uma grande amiga, Madalena, pois ambas partilhamos fidelidade e admiração a uma velha amiga em comum: Agatha Christie.