domingo, 27 de maio de 2012

           


              PREDADOR - PATRICIA CORNWELL






Predador, Patricia Cornwell, 2ª ed, Editorial Presença,2009, Lisboa
Título original- Predator


"O caso não é decerto um candidato ao estudo dos determinantes prefrontais da reactividade agressiva manifesta conhecido como PREDADOR, conclui Scarpetta, apercebendo-se vagamente do barulho de uma moto no recinto da Academia" (pág. 11)


(...)" a abordagem a um local do crime é semelhante à de um predador. move-se do exterior para dentro, guardando o pior para o fim." (pág. 124)


"Como psicólogo forense, julgava ter visto já praticamente todas as variantes do insólito. Mas nunca viu nada como isto." (pág. 187)


Predador foi um dos livros de Patricia Cornwell  que mais me inquietou até agora, embora "Post Mortem" tenha me feito pensar bastante acerca do quão vulneráveis podemos estar, mas este livro terá com certeza seu espaço aqui, para maiores detalhes.
Ora, a história do "Predador" foi daquelas em que o livro veio ao meu encontro e não o contrário, encontrei-o nas prateleiras da Fnac de Braga, quando na verdade estava intrigada com um livro de Agatha Christie que tinha visto em um blog, so, fui à procura de "4.50 from Paddigton", mas "Predator" foi mais certeiro na altura.
Foi assim que Patricia Cornwell entrou em minha vida literária.Para nunca mais sair.
Esta senhora escreve bastante bem e, na altura da publicação da edição acima de Predador, era Directora  de Ciência Forense Aplicada na National Forensic Academy segundo a badana do livro.
Predador é uma palavra que no livro tem o significado de um projecto desenvolvido para analisar o cérebro de assassinos violentos, e estudar suas reacções aos testes.
Um recluso, Basil Jenrette, é o voluntário para os estudos e durante os testes faz uma revelação inesperada, que na altura dos crimes tinha um cúmplice, e que este ainda estaria a agir.
Kay Scarpetta e sua equipe é destacada para tratar do caso, enquanto Benton tenta, entender a mente de Basil ao mesmo tempo que tem que fazer com que ele colabore com a polícia.
Tem início então, uma inquietante trama, onde a vidas estão em jogo, personagens que aparentemente não se conhecem de lado nenhum revelam caminhos cruzados num dado momento que vão culminar num macabro jogo do qual não se pode sair.
Aqui, o que inquieta é a existência de um personagem que possui um distúrbio de personalidade e será responsável por levar o leitor a um mundo distorcido existente em sua mente. Patricia Cornwell com muita segurança descreve e narra este universo existente numa mente doente no ponto certo, nem mais nem menos. Creio que Predador é mais que o nome do projecto, é mais que a palavra usada para designar animais e seres humanos , é usada, sobretudo para designar o que espreita por trás de uma mente doente, o que está á espera, paciente, muito paciente, e vem insurgindo aos poucos, como a própria loucura.
Recomendável para quem quer um ótimo thriller forense, e de quebra, leva um ótimo thriller psicológico.
Um dos melhores da autora.




Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre Patricia Cornwell










Veja aqui o video promocional do livro:



http://vimeo.com/12378021


sábado, 19 de maio de 2012

      


   
    TESTEMUNHA DA ACUSAÇÃO- Agatha Christie




 Testemunha da Acusação, Agatha Christie, 3ª edição, Civilização Brasileira, 1970, Rio de Janeiro.
Título original em inglês- Witness for the Prosecution

Robarts- " Do princípio...Conte-me o princípio...Como foi que a conheceu?" (pág. 13)

Romaine- "Mas eu quero que me explique bem, para eu saber o que eu faço. Se eu disser: sim, Leonardo estava comigo no apartamento ás 9 e 30, ele será absolvido? A justiça o deixará em paz? (As maneiras dela deixam o advogado perplexo). (pág. 52)
O presente livro não é um dos meus favoritos da autora,como por exemplo, "As dez figuras negras", "O Assassinato de Roger Ackroyd" ou "Sangue na piscina" só para citar alguns, mas não há dúvida que é um livro marcante, principalmente na época em que foi escrito.
Esta peça em três atos nos apresenta uma trama simples: Leonard Vole é acusado da morte de uma senhora, French, a qual conheceu por acaso na rua e dela se tornou amigo íntimo.
O acusado vai á procura do advogado Robarts para defendê-lo. São chamadas a depor Janet, a governanta da Sra. French que claramente não gosta de Leonard; e também sua esposa, Romaine, que ao princípio corrobora com o depoimento do marido, para depois tornar-se numa gélida testemunha de acusação.
Passada praticamente em tribunal, a peça traz diálogos de cortar à faca, rápidos e surpreendentes, prendendo o leitor numa teia de intrigas trazendo um desfecho inesperado. Mesmo inesperado.
O livro foi adaptado para o cinema com nada mais nada menos que Marlene Dietrich no papel de Romaine. Desempenho, aliás, excelente, não poderia ser melhor escolha. Foi o mesmo que designar Anthony Hopkins para o papel de Hannibal Lecter. No coments.
Testemunha da Acusação manteve-se em cartaz durante anos seguidos nos teatros de Londres, Paris e New York.
Um livro de referência obrigatória para os admiradores de Agatha Christie.

               
                   Vídeo do filme realizado em 1957.





                           



                      Fotos do filme com Marlene Dietrich                








sábado, 12 de maio de 2012



       A CASA DO PASSADO- Algernon Blackwood








A Casa do Passado,Algernon Blackwood,Record, 2001, Rio de Janeiro.










Ora, ler Algernon Blackwood fica mais fácil para o leitor habituado a ler Lovecraft, porque em ambos cada qual á sua maneira, o leitor vai encontrar um universo totalmente á parte, povoado por seres vindos de outras dimensões ou por seres que ganham vida através da imaginação de seus personagens. Num meio fio entre a ficção sobrenatural e a científica, o autor trabalha os nervos do leitor, mergulhando-o nos cenários mais improváveis que consegue criar com maestria.
Em "A Casa do Passado", destaco dois dentre os dez contos que compõem o corpo do livro, um deles, "Os salgueiros" por ser um clássico do autor inglês nascido em 1869, e " A boneca" justamente por esse conto conseguir criar a atmosfera sobrenatural na figura de uma simples boneca capaz de atemorizar uma casa inteira. Vamos a isso.


OS SALGUEIROS- The Willows, primeira publicação, 1907


"E, á parte a força dos elementos, percebi que os salgueiros se conectavam diretamente com  minha inquietação,atacando a mente através de seu poder coletivo,representando, em meu mundo imaginário,uma nova força, que nada tinha de amistosa" (pág. 248)


"Havíamos feito um "desvio", como o Sueco dissera, e caíramos numa região de enormes riscos, embora desconhecidos; uma região onde as fronteiras de um mundo misterioso estavam muito próximas."(pág.283)


No conto "Os Salgueiros" dois amigos descem em um pequeno barco pelo Danúbio e acampam numa zona repleta de salgueiros, que com as cheias, fica completamente isolada.
Conforme o tempo vai passando o lugar vai exercendo sobre ambos uma tensão opressiva, que vai influenciar drasticamente o comportamento dos amigos.
Começam a surgir as alucinações, as visões noturnas, a desconfiança, o medo, os sons, a desordem emocional, levando os personagens ao limite da sanidade.
A opressão malígna do lugar e principalmente dos salgueiros a fechar o círculo, fá-los pensar em alienígenas e zonas quadridimensionais tamanha a falta de explicações racionais para aquilo que os envolve e persegue. Num crescente, o conto torna-se um jogo aterrorizante entre presas e predador.
Blackwood consegue pôr o leitor alerta como se realmente alguma coisa se aproximasse, não se sabe de onde para nos encurralar. Um conto para se ler de olhos bem abertos. Imagino esse conto nas mãos de um roteirista de "The Twilight Zone". Seria incrível.


A BONECA- The Doll, publicado pela primeira vez em 1946


A figura das bonecas (os) tem dado largas á imaginação de alguns escritores e realizadores de filmes de terror, como no caso de "Child Play (1988) no qual o boneco Chucky ganha vida e aterroriza a família de Andy Barclay. Ou, em "Dolls" (1987) onde um casal estranho acolhe alguns viajantes para pernoitar em sua mansão numa noite de chuva e eles descobrem que a mansão abriga uma bizarra fábrica de bonecas. Bonecos e bonecas também estão associados a práticas de vodoo. Estes objetos inanimados por vezes podem ser bem sinistros. Neste conto, não é diferente.


"Para determinar em que ponto exato os fatos relatados resvalam pela fronteira do desconhecido e do fantástico, seria preciso observar tudo como se olhássemos uma teia de aranha através de um telescópio.Com o olho no telescópio, a teia de uma aranha da  Nova Zelândia parece feita com cordas imensas. Mas se o olho examina relatos de segunda mão, a teia nada mais é, que uma trama impalpável." (pág. 80)


Neste conto, um pacote é entregue por um estranho numa noite fria de novembro aos cuidados do coronel Masters á sua cozinheira. Assim que tem ciência do seu conteúdo, o coronel manda queimar o embrulho.
A desobediência à sua ordem dá início a um tenebroso enredo sobrenatural envolvendo o conteúdo do pacote (uma boneca) e os restantes ocupantes da casa.
No decorrer da narrativa vão-se apresentando especulações das empregadas da casa acerca da boneca e do patrão, são pequeninos flash-backs que trazem ao leitor o cruzamento das opiniões.
A governanta, Madame Jodzka acaba por descobrir que a boneca afinal não é um brinquedo inocente. Ela tentará desvendar a misteriosa  e sinistra aura que acompanha o objeto e sua relação com o passado do coronel Masters na Índia.
O leitor mais susceptível,poderá ficar a pensar durante uns dias depois de lê-lo, o mais experiente nessas "andanças" deve estar imaginar uma abordagem psicanalítica para além da abordagem meramente sobrenatural.
Faça sua escolha. Ou se calhar, não.









sábado, 5 de maio de 2012


                     MESSIAS- Boris Starling


Messias,Boris Starling . Bertrand Editora,2009, Lisboa.
Título original- Messiah

"Pousa o livro devagar, no sofá a seu lado, e fecha os olhos.Vem-lhe á cabeça uma citação. Uma citação de O Silêncio dos Inocentes, que ele guarda numa pequena moldura em cima da sua secretária na Scotland Yard. Resolver problemas é andar á caça.È um prazer selvagem e nascemos para isso." (pág. 296)

"Aquele que guarda a sua boca e a sua língua guarda das angústias a sua alma." Provébios, 21:23 (pág 11)

"_ Um de entre vós, trair-me á" (pág.556)

Traição. Crise de consciência. Medo. Mágoa. Um assassino que pensa ser o Messias. Um policial atormentado. Eis o livro.
Messias segue a linha dos policiais com toques requintados das passagens bíblicas, neste caso da reconstituição da agonia de Cristo.
A partida, parece que o leitor está a ser guiado por um labirinto, recebe o convite e entra, para mais adiante ser deixado para trás, entregue a si próprio e tem que encontrar rapidamente a saída.
Ora, até que a saída seja encontrada, terá que passar pelo purgatório e vigiar para não ser apanhado por falsos caminhos. Mas com certeza deixará o labirinto e sairá modificado.
Londres,maio,1998.O início.
Pessoas assassinadas de formas diferentes,com um único ponto em comum uma colher de chá de prata no lugar onde antes havia suas línguas.
O superintendente Red tem nas costas o peso de encontrar o Messias, assim conhecido posteriormente quando a equipa de Red chega a conclusão de que o assassino está a reunir seus apóstolos.O motivo das mortes, sim,mas em quem ele quer chegar? Vai passar pela cabeça do leitor muitas vezes esta questão á medida que os "apóstolos" vão sendo eliminados.
É de facto um thriller empolgante, bem escrito, límpido, personagens consistentes. Numa segunda leitura,mais não seja ao voltar a algumas partes após a revelação final, vê-se claramente pistas deixadas pelo   autor sobre a personalidade do verdadeiro assassino, pequenas palavras, quando descreve seu cotidiano ,as palavras usadas por ele,enfm, questão de perspicácia do leitor.
Como eu disse anteriormente, há que vigiar para não ser apanhado em falsas armadilhas durante a leitura.
A narrativa paralela sobre Eric, o irmão de Red, que, de início parece ser apenas para ilustrar melhor o drama interior vivido pelo policial, acaba por entrelaçar-se com o tempo real  e diz ao que veio.
Para quem gostar de labirintos, venha percorrê-lo com Red Metcalfe e ao final terá sua redenção.
É mesmo disso que se trata. Redenção.Do Messias, de Red, do leitor.
O livro Messias deu origem a uma série da BBC com o mesmo título.

terça-feira, 1 de maio de 2012



         O CLUBE MEFISTO - TESS GERRITSEN










O Clube Mefisto, Tess Gerritsen-  The Mephisto Club, 2ª ed, Record,2011.


"_Você já leu o Livro de Enoque, detetive?- perguntou Edwina, voltando a encher a taça de vinho." (pág.378)


"O mal não tem uma explicação fácil. Hoje, mais de 2 mil anos depois de O Livro de Enoque ter sido escrito, não avançamos muito na compreensão de por que o mal existe. Tudo o que sabemos é que existe." (pág.399)


O Clube Mefisto não é, definitivamente, mais um policial do muitos que por aí andam. Falar sobre ele é quase um exercício infrutífero dado a sua riqueza de enredo, citações bíblicas, textos apócrifos, por isso tem-se a sensação de que palavras não chegam para descrevê-lo, e é mesmo assim.
Há muito não lia algo do gênero que fosse tão rico em detalhes ( sem ser maçador), com uma trama que mal dá ao leitor a oportunidade de respirar antes de virar a página. Para se refletir no que foi lido, há que buscar nossas memórias de outras leituras para que possamos seguir adiante na próxima página.
Acho interessante no livro a presença da intertextualidade, onde o texto do livro ao fluir, remete para os textos bíblicos, dos textos bíblicos para a História Antiga ( a autora foi estudante de antropologia) e dessa para os textos apócrifos, o que torna a leitura interessante e curiosa.
Tess Gerritsen antes de lançar-se á escrita, estudou medicina, o que confere a sua personagem Maura Isle conhecimentos de patologia forense bastante detalhados, tornando as cenas bastante reais sem beirar o grotesco.
Maura Isle e Jane Rizzoli respectivamente patologista e detetive, são chamadas para investigar um brutal  assassinato na véspera de Natal. Tudo no local  do crime indica ritual satânico. O segundo crime vai levá-las á mansão de Antony Sansone, mentor e estudioso da Fundação Mefisto.
A partir daí ambas embarcam em queda livre em direção ao rasto do mal. Literalmente!
Pelo meio, vamos encontrar os conflitos pessoais de ambas, a quebrar um pouco a tensão dos assassinatos e sua busca pelo seu autor.
Para quem gostar de um bom policial, leitura obrigatória.