sábado, 12 de maio de 2012



       A CASA DO PASSADO- Algernon Blackwood








A Casa do Passado,Algernon Blackwood,Record, 2001, Rio de Janeiro.










Ora, ler Algernon Blackwood fica mais fácil para o leitor habituado a ler Lovecraft, porque em ambos cada qual á sua maneira, o leitor vai encontrar um universo totalmente á parte, povoado por seres vindos de outras dimensões ou por seres que ganham vida através da imaginação de seus personagens. Num meio fio entre a ficção sobrenatural e a científica, o autor trabalha os nervos do leitor, mergulhando-o nos cenários mais improváveis que consegue criar com maestria.
Em "A Casa do Passado", destaco dois dentre os dez contos que compõem o corpo do livro, um deles, "Os salgueiros" por ser um clássico do autor inglês nascido em 1869, e " A boneca" justamente por esse conto conseguir criar a atmosfera sobrenatural na figura de uma simples boneca capaz de atemorizar uma casa inteira. Vamos a isso.


OS SALGUEIROS- The Willows, primeira publicação, 1907


"E, á parte a força dos elementos, percebi que os salgueiros se conectavam diretamente com  minha inquietação,atacando a mente através de seu poder coletivo,representando, em meu mundo imaginário,uma nova força, que nada tinha de amistosa" (pág. 248)


"Havíamos feito um "desvio", como o Sueco dissera, e caíramos numa região de enormes riscos, embora desconhecidos; uma região onde as fronteiras de um mundo misterioso estavam muito próximas."(pág.283)


No conto "Os Salgueiros" dois amigos descem em um pequeno barco pelo Danúbio e acampam numa zona repleta de salgueiros, que com as cheias, fica completamente isolada.
Conforme o tempo vai passando o lugar vai exercendo sobre ambos uma tensão opressiva, que vai influenciar drasticamente o comportamento dos amigos.
Começam a surgir as alucinações, as visões noturnas, a desconfiança, o medo, os sons, a desordem emocional, levando os personagens ao limite da sanidade.
A opressão malígna do lugar e principalmente dos salgueiros a fechar o círculo, fá-los pensar em alienígenas e zonas quadridimensionais tamanha a falta de explicações racionais para aquilo que os envolve e persegue. Num crescente, o conto torna-se um jogo aterrorizante entre presas e predador.
Blackwood consegue pôr o leitor alerta como se realmente alguma coisa se aproximasse, não se sabe de onde para nos encurralar. Um conto para se ler de olhos bem abertos. Imagino esse conto nas mãos de um roteirista de "The Twilight Zone". Seria incrível.


A BONECA- The Doll, publicado pela primeira vez em 1946


A figura das bonecas (os) tem dado largas á imaginação de alguns escritores e realizadores de filmes de terror, como no caso de "Child Play (1988) no qual o boneco Chucky ganha vida e aterroriza a família de Andy Barclay. Ou, em "Dolls" (1987) onde um casal estranho acolhe alguns viajantes para pernoitar em sua mansão numa noite de chuva e eles descobrem que a mansão abriga uma bizarra fábrica de bonecas. Bonecos e bonecas também estão associados a práticas de vodoo. Estes objetos inanimados por vezes podem ser bem sinistros. Neste conto, não é diferente.


"Para determinar em que ponto exato os fatos relatados resvalam pela fronteira do desconhecido e do fantástico, seria preciso observar tudo como se olhássemos uma teia de aranha através de um telescópio.Com o olho no telescópio, a teia de uma aranha da  Nova Zelândia parece feita com cordas imensas. Mas se o olho examina relatos de segunda mão, a teia nada mais é, que uma trama impalpável." (pág. 80)


Neste conto, um pacote é entregue por um estranho numa noite fria de novembro aos cuidados do coronel Masters á sua cozinheira. Assim que tem ciência do seu conteúdo, o coronel manda queimar o embrulho.
A desobediência à sua ordem dá início a um tenebroso enredo sobrenatural envolvendo o conteúdo do pacote (uma boneca) e os restantes ocupantes da casa.
No decorrer da narrativa vão-se apresentando especulações das empregadas da casa acerca da boneca e do patrão, são pequeninos flash-backs que trazem ao leitor o cruzamento das opiniões.
A governanta, Madame Jodzka acaba por descobrir que a boneca afinal não é um brinquedo inocente. Ela tentará desvendar a misteriosa  e sinistra aura que acompanha o objeto e sua relação com o passado do coronel Masters na Índia.
O leitor mais susceptível,poderá ficar a pensar durante uns dias depois de lê-lo, o mais experiente nessas "andanças" deve estar imaginar uma abordagem psicanalítica para além da abordagem meramente sobrenatural.
Faça sua escolha. Ou se calhar, não.











2 comentários:

  1. Instigante, no mínimo! me lembrou alguns contos do Poe, se calhar, como dizes, publica alguma coisa dele, eu adoro! Já a vertente psicanalítica no segundo parece dar um tom muito legal à relação com os bonecos, estou curioso, vou procurá-los! abçs!

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  2. Edgar Allan Poe está na lista, claro,publicarei em breve...abraços também.

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