quinta-feira, 13 de agosto de 2020

 Sem Saída- Taylor Adams



Sem Saída, Taylor Adams, Faro Editorial, 2019, São Paulo
Título original: No Exit, 2017





Edição Portuguesa, 2018, Ed. Topseller

17H19 
23 de dezembro

" Darby Thorne havia subido dez queilômetros pelo desfiladeiro de Backbone, quando o limpador de para-brisa do carro quebrou." (pág. 9)

" Enquanto tomava um gole de Red Bull morno, concluiu que se mais um ou dois centímetros de neve se acumulassem, ela ficaria presa ali, a dois mil e setecentos metros acima do nível do mar com um quarto de tanque de gasolina, sem sinal de celular e tendo como companhia seus pensamentos angustiados." (pág.10)

"Assim, guardou o iPhone no bolso, soltou o cinto de segurança, vestiu um casaco por cima do agasalho de moleton com capuz com a estampa Boulder e torceu que, para além da promessa de café grátis, aquela pequena e lúgubre área de descanso tivesse Wi-Fi" (pág.14)

"O furgão tinha duas janelas traseiras. A da direita estava bloqueada por uma toalha. A toalha da esquerda tinha caído, expondo o vidro transparente e refletindo a luz de uma lâmpada. Quando Darby se aproximou da janela, vislumbrou algo pálido dentro do furgão: uma mão"
(...)
Há...
Há uma criança trancada dentro desse furgão. ( pág. 24)

20h14
" Naquela noite, todas as decisões deixariam pegadas" (pág. 43)

Sem Saída foi uma surpresa um tanto quanto desagradável.
Muito barulho por nada... ou quase nada...
A começar pela publicidade, os dizeres da capa, contracapa e badana: " Cinco estranhos isolados na neve. Um deles é um psicopata..."
A ideia que dá é a de que Darby, a protagonista, tem que levar grande parte do livro a descobrir, por raciocínio, exclusão de partes, quem supostamente seria o psicopata.
Mas isto não acontece....
Estão de facto cinco pessoas estranhas isoladas pela neve em uma área de serviço. Mas cinco a contar com ela. 
Os estranhos são : Ed, sua prima Sandi, Lars e Ashley.
Um deles mantêm uma criança presa no furgão cuja neve vai cobrinco.
Um deles é o sequestrador.
A partir do momento em que Darby descobre a criança presa no furgão, rapidamente descobre a quem pertence o carro.
E desse momento em diante, terá que libertar a criança, escapar do raptor, até que o dia amanheça, pois somente então os caminhões limpa-neve chegarão para que possam sair com as estradas limpas e transitáveis.
Há de facto, muita reviravolta na narrativa, mas parece que estamos a ver um filme medíocre de perseguição na neve, de armadilhas sangrentas, diálogos pouco consistentes.
Há ainda alguns flash-backes quando Darby recorda-se da mãe que está com câncer no pâncreas, razão pela qual ela pegou a estrada a fim de passar o Natal em família.
O leitor vai descobrindo aos poucos que os estranhos na paragem de serviço, não são propriamente estranhos.
Confesso que esperava mais do livro, que em breve tornar-se-à um filme. Suponho que mediano. se for fiel ao livro.
Mas se você não tiver mais nada para ler a não ser magazines na sala de espera do dentista, fica a dica.

Segue o Book Trailer italiano do livro:


Outro exemplo:

sábado, 11 de julho de 2020

Causas nada Naturais- P.D. James


Causas Nada Naturais, P.D. James, Companhia das Letras, 2011, São Paulo
Título original: Unnatural causes, Faber, 1967, UK
A Editora Francisco Alves publicou anteriormente com o título de Um cadáver Mutilado, em 1985.





" O cadáver sem mãos estava deitado no fundo de um pequeno barco à vela à deriva, não muito longe do litoral de Suffolk. Era o corpo de um homem de meia- idade , um cadáver pequeno e bem apessoado, cujo sudário, um terno escuro risca de giz,caía com tanta elegância na morte quanto caíra naquele corpo franzino" ( pág.9)

"Ao norte, Dalgliesh podia distinguir com alguma dificuldade os muros baixos de seton HOuse, pouco mais de uma excrescência na beira do penhasco onde Maurice Seton, autor de romances de detetive, havia construído em conformidade com sua vida excêntrica e solitária" (pág. 20)

"Não pode ser Maurice. Ele nunca sai de barco. Maurice não gosta de velejar"
O inspetor avançou em direção à luz e se pronunciou pela primeira vez:
Ele não estava velejando ,minha senhora. O senhor Seton estava  morto no fundo do barco. Morto, com as duas mãos decepadas nos pulsos" ( pág. 39)

"Sabidamente, Seton tinha sido visto vivo pela última vez em Londres, mas seu corpo mutilado fora lançado ao mar da praia Monksmere." (pág. 113)

"Causas naturais, senhor Dalgliesh. Ele morreu de enfarte ( pág. 143)

Este livro trouxe-me algumas boas surpresas, as quais não esperava posto que foi escrito em 1967.
Como por exemplo a coragem com a qual P .D. James fala sobre a triste condição feminina, a submissão, os rótulos sociais impostos à mulher, admirei os  laivos de feminismo presentes no livro, os quais passarei a citar mais adiante em um parêntese necessário.
Como esse é um livro no  qual a maioria dos personagens são escritores, há muitas referências à histórias sobre crimes reais, o que torna mais interessante a narrativa ( cito algumas passagens no final da resenha). Referências essas que são feitas no capítulo em que o Cadaver Club no é apresentado, um clube frequentado por Seton,  no qual cavalheiros se reuniam para conversar sobre crimes e assassinatos. 
Este é mais um caso para o inspetor Dalgliesh, o personagem conhecido pelos fãs da autora, de férias em Monksmere Head,  na agradável companhia de sua tia Jane,  respeitada ornintóloga e escritora nas horas vagas, aliás como quase todos no vilarejo , no qual ele acompanha os policiais locais na investigação da morte de Maurice Seton, escritor de livros policiais.
Os suspeitos são os moradores da região, amigos do escritor e também sua secretária particular, Sylvia Kedge, cuja deficiência física despertava ao mesmo tempo pena e repulsa  no pequeno círculo de Monksmere.
Há também o meio- irmão de Maurice, Digby, suposto herdeiro direto da fortuna deixada pelo irmão morto.
Pouco a pouco os álibis são colocados pelos suspeitos e investigados pela polícia local, que poucas pistas tem para trabalhar, além de um manuscrito deixado por Maurice , no qual descreve exatamente a forma como encontrou a morte.
Celia Calthrop, uma das suspeitas, admite que a ideia para aquela forma de morte veio dela mesma, quando aconselhava Maurice a ser mais assertivo nos inícios de seus romances policiais.
A investigação avança e uma revelação paradoxal é feita pelo legista: que Seton morrera de enfarto e suas mãos foram decepadas post-mortem.
Todos parecem querer acreditar, o que facilitaria suas vidas e próprios álibis, mas Dalgliesh parece não estar convencido.Ele inicia uma investigação paralela à da polícia de Monksmere Head, a fim de descobrir a verdadeira história por trás da morte de Maurice Seton.
P.D. James, escreve muitíssimo bem, muitas vezes comparada à Agatha Christie, como sendo sua sucessora, tem o mesmo estilo britânico, o humor britânico como Agatha Christie, é verdade. Mas P.D. James tem, a meu ver, uma escrita mais politizada, mais feminista, embora o ponto seja novelas policiais, mas introduz sutilmente sua posição diante do patriarcado. Lembrando sempre que esse livro foi escrito em 1967.
Passo a citar alguns trechos onde aprecem, além do humor britânico sarcástico de que tanto gosto, algumas referências às mulheres na sociedade.

" (...) Ele vem dando indicações de que esse livro será diferente dos outros...nada do tipo de seu típico romance de detetive. Ele é um artesão muto cuidadoso, e não gosta de lidar com nada que não faça parte da sua experiência pessoal. Nós todos sabemos disso. Lembram-se de como ele passou três meses viajando com uma circo itinerante antes de escrever Morte no trapézio ? É claro que isso sugere certa deficiência em matéria de imaginação criativa. Os meus romances nunca se restringem à minha experiência pessoal.
Considerando o que aconteceu com sua heroína, Celia querida, fico aliviado em ouvir isso, disse Justin Bryce. (pág.31)

"Pensou com carinho na silhueta alta e angulosa da tia à sua espera. (...) A mãe dela, mulher mimada, de beleza frágil e, como a própria tia costumava admitir, o pior tipo de esposa para um cura erudito da zona rural, aparentemente pensava que tal sinceridade justificasse e desculpasse por antecipação qualquer arroubo de egoísmo ou excentricidade de sua parte." (pág.14)

"Jane Dalgliesh que mereceu o respeito mas nunca o amor dos membros da paróquia, fez o que precisava ser feito, e se consolou com o estudo dos pássaros. Após a morte do pai, os documentos que ela publicou, registros de uma observação meticulosa, proporcionaram-lhe alguma notoriedade; com o tempo, o que a paróquia chamava com desdém de ' o pequeno hobby da srta. Dalgliesh' a transformou em uma respeitadíssima ornitóloga amadora." (pág. 15)

" Fazia doze anos que a srta. Calthrop havia comprado Brodie's Barn, 'o celeiro de  Brodie', que rebatizara de Rosemary Cottage, ' chalé do alecrim'.(...) e o transformara de maneira igualmente barata, depois de importunar delicada mas insistentemente a mão de obra local, no ideal romantizado das leitoras de seus livros." (pág.18)

"No início, Jane Dalgliesh tinha sido excluída dos convites, não por não se apresentar como escritora, mas por ser uma mulher solteira, solitária e idosa,e, portanto, segundo a escala de valores da srta. Calthrop, um fracasso social e sexual que merecia apenas ser tratada com  uma gentileza algo desdenhosa." ( pág 18)

" O Cadaver Club é um estabelecimento tipicamente inglês, no sentido de que sua função, embora difícil de definir-se de forma precisa, é compreendida com perfeição por todos os interessados. O clube foi fundado por um advogado em 1892 para servir de local de encontro para cavalheiros interessados em assassinato(..) O clube é exclusivamente masculino: mulheres não podem ser sócias ou frequentar suas dependências.(...) Ali, o assassinato evoca a imagem de uma empregada doméstica da era vitoriana, toda paramentada com boina e fitas, espiando pela porta de um quarto para ver Adelaide Bartlett preparar o remédio do marido; ou então a mão esguia de alguém, esticada por entre as grades de um porão em Edimburgo oferecendo uma xícara de chocolate quente e, quem sabe, arsênico: ou o dr. Lamson distribuindo bolos de fruta redondos durante o último chá promovido por seu rico cunhado; ou ainda, no calor do verão de Massachusetts, Lizzie Borden percorrendo às escondidas a silencosa casa de Fall River com um machado na mão"( pág.161)

"Nas prateleiras de ficção, uma pequena seção tinha as poucas primeiras edições que o clube possuía: obras de Poe, Le Fanu e Conan Doyle (...) (pág.166)

"O mesmo valia para uma Bíblia com a assinatura de Constance Kent na folha de rosto" ( pág.166)


Houve uma adaptação do livro em 1993 com a seguinte descrição: Unnatural Causes - ITV- P. D. James Mysteries Series- 7
Deixo o link para o filme completo no Youtube


 

domingo, 21 de junho de 2020

       Não confie em ninguém- Charlie Donlea


Não confie em ninguém, Charlie Donlea, Faro Editorial, 2018, Barueri, São Paulo
Título original: Don't believe it, Pinnackle Books, Kensington Publishing Corp, 2018



" Em um longa-metragem, o diretor é Deus; em um documentário, Deus é o diretor" -Alfred Hitchcock "

" O sangue era um problema." (pág. 13)

" Matar alguém exige perfeição, timming e sorte. Eu esperava que esses três atributos estivessem ao meu lado nesse entardecer" (pág. 13)

"Julian ouviu um graveto estalando atrás de si, e se perguntou como ela pudera alcançar o penhasco sem ele perceber a aproximação. Antes que esse pensamento fizesse seus músculos reagirem, Julian sentiu um golpe abalar seu corpo.Começou na cabeça, um impacto rápido que paralisou o tempo e congestionou seus movimentos, como se ele nadasse em óleo." (pág. 17)

"- Foram detectados vestígios de fibras de organza no ferimento e couro cabeludo de Henry Anderson." (pág.286)

" Gus deu um sorriso sutil.
_ Não acredito nisso." (pág.347)

Sem sombra de dúvidas , este é o melhor livro de Charlie Donlea até o momento.
Os anteriores são muito bons, e ainda os vou resenhar aqui. Um deles, A Garota do Lago, já publiquei uma resenha aqui.
Mas, esse livro de hoje é quase uma obra-prima do autor até agora.
Um thriller extremamente bem engendrado, bem escrito, uma trama que nos leva a pensar dez vezes antes de levantar a primeira suspeita.
Porque em princípio, todos são suspeitos.
O autor escreve de uma maneira muito interessante que aponta a mesma narrativa sob dois pontos de vista: a do(a) assassino(a) e da vítima.
A cena que abre o livro narra  a cena do crime que vitima Julian. Nas páginas seguintes, a mesma cena sob o ângulo de Julian. E assim vamos sendo surpreendidos por uma narrativa ora linear, ora com flashbacks, ora sob o ponto de vista do (a) algoz ,ora sob o ponto de vista da vítima.
Creio que o título original "Don't believe it" é uma pista para a personagem Sidney Ryan, para o personagem Gus, e para nós , leitores.
Pistas falsas são lançadas, mas só nos damos conta de que o são quando uma revelação chocante nos toma de assalto em dados capítulos.
Então somos forçados a reler passagens anteriores , e, se vocês forem como eu que vai anotando a lápis nas margens as suspeitas, rever tudo o que suspeitávamos antes.
O livro beira o genial.
O plot é , de forma sucinta, a história de Grace Sebold acusada de matar o namorado, Julian, empurrando-o de um penhasco. Ainda na prisão escreve uma carta à cineasta Sidney Ryan, pedindo ajuda.
Sidney decide realizar um documentário e começa a investigação para seu documentário e afim de inocentar Grace.
Durante esse período de pesquisas, entrevistas e suposições, vai desvendar o passado sombrio da juventude de Grace e seus amigos, e familiares.
Parece cliché, eu sei... mas neste caso, nesse livro não é.
Recomendo muito, será uma  leitura instigante, interessante, fluida, "page-turner" principalmente bem escrita.
Charlie Donlea veio para ficar, em um gênero que cresce vertiginosamente, e nem sempre há boas narrativas, o autor não será passageiro.
Boa leitura!



domingo, 8 de março de 2020



O Leopardo- Jo Nesbo



O Leopardo, Jo Nesbo, 5º edição, Record, 2018, Rio de Janeiro
Título original: Panserhjerte , 2009



" Não ouviu nada mas notava uma presença. Como um leopardo.Alguém lhe contara que o leopardo era tão silencioso que podia esgueirar-se para pertinho da presa no escuro, e podia ajustar o fôlego para respirar no mesmo ritmo que você." (pág. 7)

"Passando a língua, ela descobriu que havia pinos saindo da bola e eram estes que pressionavam o céu da boca , a carne macia da parte interna, os dentes, a goela. Ela tentou dizer alguma coisa. Ele escutou com paciência os sons desarticulados que saíam da sua  boca. Quando ela desistiu , ele fez que sim com a cabeça e pegou uma seringa. A gota na ponta da agulha cintilou à luz do lampião. Ele sussurrou no ouvido dela:
- Não mexa no fio" ( pág. 9)

"Era isso a vida: um processo de destruição, uma desintegração de algo que a princípio era perfeito. O único suspense era se seríamos destruídos de repente ou lentamente" (pág. 43)

"Nesbo foi comparado a Stieg Larsson, mas sua narrativa é mais dinâmica, com mais suspense, e surpreende o leitor até a última página" DAILY MIRROR
A citação acima vem na capa da edição a qual eu li.
Mas, embora eu goste imenso de Jo Nesbo, creio que neste caso específico em O Leopardo, a crítica não se aplica.
Embora a narrativa de fato seja dinâmica, ao longo das 599 páginas, o autor se perde ao diminuir o ritmo, quando mantém o foco na vida privada de seus personagens ao invés de mantê-lo na investigação.
Mesmo na investigação a trama , que é bem retorcida, se estende tanto que faz com que o leitor menos experiente se perca num labirinto de personagens, flash backs mal colocados, reviravoltas confusas.
E esse tipo de "deslize" nunca aconteceu com Larsson.
Apesar disso , O Leopardo é um bom livro. Publicado após o grande sucesso de  BONECO DE NEVE, o autor encontrou uma história sinistra digna da franquia JIGSAW.
A capa que ilustra a edição norueguesa traz a Maçã de Leopoldo que é usada como arma diabolicamente construída pelo rei Leopoldo, segundo o livro, e foi diabolicamente usada pelo assassino para matar suas vítimas do sexo feminino.
Harry Hole, depois dos acontecimentos do livro anterior, O Boneco de Neve, isola-se em Hong Kong, mergulhado em ópio e álcool. Na tentativa de autodestruição, ignora o pedido de ajuda que chega de Oslo para investigar a morte de pelo menos três mulheres naquela altura.
Afogadas as duas primeiras no próprio sangue com a Maçã de Leopoldo, e uma terceira vítima enforcada.
Após a agente enviada a Hong Kong convencê-lo a voltar para a Noruega, Hole vê-se em um perigoso caso, mais sórdido que o anterior e precisa estar sóbrio para vencer mais um psicopata.
Sua luta com o álcool se arrasta ao longo do livro, bem como o inconformismo pela perda de Rakel e Oleg desde a saída deles da Noruega.
Para os leitores que acompanham a série, talvez este livro seja o que mais se arrasta, literalmente, aquele em que há picos no ritmo da narrativa, bem intencionadas talvez, mas para o típico leitor de suspense, não funciona.
Mas permanece a dica, a recomendação, pois cada leitor é único e sente as emoções de forma igualmente única, pode ser que eu esteja errada em relação ao livro no que toca ao seu tom deveras prolixo.






terça-feira, 3 de março de 2020

        
                   Mr. Mercedes- Stephen King






Mr. Mercedes, Stephen King, Suma das Letras, 2016, Rio de Janeiro

Título original: Mr.Mercedes, Stephen King, Scribner, 2014, USA


" Lanternas de alta definição, pensou Augie. É um Mercedes-Benz. O que um Mercedes está fazendo em uma feira de empregos?" (pág.16)

"Houve um tempo para ele pensar: Talvez ele desvie.
Essa pareceu ser a melhor chance deles, provavelmente a única. Ele levantou a cabeça para ver o que estava acontecendo mas um pneu enorme consumiu a visão. Ele sentiu a mão da mulher agarrar seu antebraço. Houve tempo de torcer para que o bebê ainda estivesse dormindo. E aí o tempo acabou." ( pág.17)

" Quer fazer contato comigo? Oferecer seu "f, mas feedback"? Experimente o site Under Deebie's Blue Umbrella. Até arrumei um nome de usuário para você: "kermitsapo19" Posso não responder, mas "ei, nunca se sabe" (pág.31)

" Hodges leu que há poços tão fundos na Islândia que você pode jogar uma pedra lá dentro e nunca ouvir o barulho dela batendo na água . Ele acha que algumas almas humanas são assim. " (pág.34)

"Mas Brady acha aposta que o velho policial nunca leu Nietzsche; Brady acha que o cara deve ser o tipo que gosta de John Grisham. Se é que lê alguma coisa. Quando você olha para o abismo, Nietsche escreveu;  o abismo também olha para você.
Eu sou o abismo meu velho. Eu" (pág. 46)

"Brady se pergunta o que Freddie diria se contasse a ela como foi a infância dele
quando matou o irmão . E a mãe o acobertou. 
E por que ela não acobertaria?
Afinal, foi em parte ideia dela" ( pág.49)


" -Apavorante. Você já viu aquele filme sobre o palhaço no esgoto?
Hodges balançou a cabeça. Mais tarde , semanas antes da aposentadoria, ele comprou o DVD do filme, e Pete estava certo. O rosto da máscara era bem parecido com o de Pennywise, o palhaço do filme." (pág. 61)

"Um serial killer esta´servindo sorvete para elas, e elas nem têm ideia" (pág.81)

"Jerome abre e encontra outra subpasta.Gavetas dentro de gavetas, pensa Hodges. Um computador não passa de uma escrivaninha vitoriana, cheia de compartimentos secretos." ( pág.352)

Stephen King escreve bem. Isto já é um dado adquirido. 
O interessante é que o autor,conhecido sobretudo por seus livros de terror, no início e ao longo da carreira, resolveu aventurar-se no romance policial.
Com a trilogia BILL HODGES provou ser um mestre também do policial e do jogo de gato e rato digno da verdadeira história do assassino do Zodíaco.
Há na narrativa o velho e bom espírito de suspense, cativante, viciante até, como poucos autores especializados no gênero policial ainda conservam, como P.D.James, ou Agatha Christie. Para citar os clássicos policiais.
O autor inclusive cita a rainha do crime: " Hodges nunca considerou a ideia de que Mr.Merdedes pudesse ser, na verdade, uma sra. Mercedes. Ele acha tecnicamente possível, e seriaa uma solução bem legal para um romance de Agatha Christie, mas isso é a vida real."
Mr. Mercedes, assim como toda a trilogia entrará com certeza para o roll dos melhores livros escritos por King.
Em uma cidade onde a grande onda de desempregos gera desespero nas famílias, uma grande feira de empregos com boas ofertas é lançada.
Na madrugada muitos desempregados fazem fila, acampam, com o propósito de conseguir apanhar alguma oferta que trará o sustento para a família de volta.
Quando inesperadamente um Mercedes-Benz entra desenfreado feira adentro, atropelando as pessoas, matando algumas e ferindo dezenas.
aliás, lembra muito Christine, o famoso carro assassino cujo livro homônimo foi publicado pela primeira vez em 1983.
A partir deste atropelamento em massa e fuga, a narrativa inicia a caçada pelo condutor, que, por sua vez  tem uma história de vida muito parecida coma de Norman Bates, persongem de Robert Bloch.
A conturbada perseguição e porque não dizer relação, que é criada entre o policial Bill Hodges e Brady Hartsfield, é repleta de reviravoltas de tirar o fôlego.
Com uma gama de personagens interessantes e bem construídos, como por exemplo, a problemática Olivia Trelawney, que sofre com problemas de ordem psicológica como TOC, um leve autismo além de outros distúrbios emocionais; King vai tecendo uma narrativa surpreendente, rica, e inesperada.
Mr. Mercedes com toda certeza fará o leitor ficar fascinado com esta nova faceta de Stephen King.
Os outros dois livros que o seguem, Achados e Perdidos e Último turno, consolidaráo King no genero  policial.
Altamente recomendável.
Boa leitura!
Sugestão: Ler em noites frias e chuvosas, um Café Latte e Scones a acompanhar.

Mr. Mercedes transformou-se em seriado, mas como sempre, o livro é superior
Assista o trailer abaixo.





segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020


            A Mulher na Janela- A.J. Finn


A Mulher na janela, A.J. Finn, Ed.Arqueiro, 2018, São Paulo.
Título Original: The Woman in the Window,  Harper Colins, 2018.


"Desconfio de que em algum lugar, dentro de você, exista algo de que ninguém sabe." - A sombra de uma Dúvida (1943) ( folha de rosto)

" Como eu ia dizendo: janelas completamente nuas. De modo que o 212, rubro e despido, parece olhar direto para o lado de cá da rua, e eu fico olhando de volta, observando a nova proprietária conduzir seu engenheiro para o quarto de hóspedes. Qual será o problema dessa casa? É nela que o amor se instala para morrer" ( pág. 9)

" - Precisa de mim para alguma coisa antes que eu vá?
  Parece uma frase de duplo sentido, algo tirado de um filme  noir .Como Lauren Bacall em  Uma aventura na Martinica: ' Basta juntar os lábios e soprar' " (pág.19)

"Mais uma Leçon de francês hoje, e , à noite,  Les diaboliques. Um marido cafajeste, uma mulher frágil, uma amante, um assassinato, um cadáver desaparecido. Existe coisa melhor que um cadáver desaparecido?" (pág 25)

"À meia-luz- Ingrid Bergman, mais linda que nunca, gradualmente perdendo  a sanidade mental" ( pág.110)

A Mulher na Janela é uma homenagem ao cinema noir.
O livro é o cinema noir.
A começar pelo título, que é uma referência à Janela Indiscreta, de Hitchcock.
Anna Fox, vive sozinha, sofre de agorafobia e passa grande parte do dia a observar seus vizinhos com uma câmera fotográfica de primeira linha.
A outra parte do dia assiste à filmes e dá consultas pela internet. Psicóloga infantil, também envereda-se a dar conselhos a pessoas adultas as quais apenas conhece pela internet.
E, em uma terceira parte do dia e noite, nem por isso menor, bebe muito Merlot e ingere muitos comprimidos para a depressão, ansiedade e para o tratamento da agorafobia.
Seu médico a visita em casa, onde faz sua consulta semanal, sua fisioterapeuta também a acompanha e Anna tem um inquilino no porão, David. 
Conversa com o ex marido Ed, por telefone e com a filha que preferiu ficar com o pai após a separação do casal.
Com a chegada de seus novos vizinhos, a família Russel, ela começa por conhecer o jovem Ethan, o filho do casal, e com ele cria uma espécie de amizade, que logo será reprovada pelo pai do garoto.
Mas quem realmente chama a atenção de Anna é a mãe, Jane.
Chega mesmo a recebê-la em casa, como quem recebe uma amiga de longa data, bebem um vinho, falam sobre a vida, passando uma tarde agradável.
Depois, uma noite, ao separar seus DVDS para assistir, ouve um grito aterrador na casa dos Russel. Através da janela vê Jane ser assassinada.
Telefona para a polícia, para Ed, e a partir daí sua vida se torna um carrossel macabro beirando a insanidade.
Entre o que Anna Fox viu, ou pensa que viu, e os depoimentos dos Russel há um grande vão.
Vão este que terá que ser preenchido se o leitor quiser saber a verdade por trás das janelas de Anna Fox.
Uma trama que nos início no leva a duvidar realmente da veracidade dos fatos, para no final, nos revelar algo que é muito explorado tanto nos livros de suspense, como nos filmes do mesmo gênero.
Um bocado clichê se não fosse a forma como é escrita, bem escrita.
Altamente recomendável aos amantes de um bom suspense, e de bons filmes 
sobretudo de Hitchcock.
O livro foi adaptado para o cinema com atuações de Julianne Moore, Amy Adams e Gary Oldman



Confira o trailer:


O autor, escreveu o livro sob um pseudônimo, seu nome verdadeiro é Daniel Mallory, conheça um pouco sobre ele nos artigos abaixo:

segunda-feira, 8 de julho de 2019


A Aventura do Pudim de Natal- Agatha Christie





A Aventura do Pudim de Natal, Agatha Christie, L&PM Pocket, 2014,Rio Grande do Sul
Título Original: The adventure of the Christimas Pudding , 1960, Collins Crime Club


" Poirot se arrepiou novamente. A ideia de uma mansão inglesa do século XIV o enchia de apreensão. Muitas foram as vezes que ele penara nas históricas casas de campo da Inglaterra. Olhou para seu apartamento moderno e confortável, com aquecedores e equipamentos de última geração para eliminar qualquer possibilidade de correntes de ar.
_ No inverno- ele disse com firmeza- , eu não sao de Londres." (pag.10- A aventura do pudim de Natal)

" - Uma arca espahola- ele refletiu- A senhorita pode me dizer, srta. Lemmon, o que é exatamente uma arca espanhola?
- Creio, monsieur Poirot, que seja uma arca origniária da Espanha.
- Esta é uma suposição sensata.Logo, a senhorita não tem conhecimento algum sobre o assunto? (pág. 63- O Mistério da Arca Espanhola)

" - Nesse meio tempo- continuou- todos os moradores da casa já deram suas versões dos fatos , o senhor Leverson entre eles, e na versão dele o que consta é que chegou já tarde e foi dormir sem ver o tio.
- Foi isso que ele disse.
_ E ninguém viu motivos para duvidar- refletiu Poirot- , exceto, claro, Parsons. Então aparece um inspetor da Scotland Yard, inspetor Miller, a senhorita disse, não? Eu o conheço. Cruzei com ele uma ou duas vezes no ano passado. Ele é o que chamam de um sujeito arguto, um investigador, um farejador." (pág.115- Poirot sempre espera)


" Hercule Poirot jantava com seu amigo Henry Bonnington no Gallant Endeavour, em King's  Road, Chelsea.
O senhor Bonnington tinha predileção pelo Gallant Endeavour . Gostava da atmosfera tranquila e da comida "simples" e "inglesa" e sem "bizarrices culinárias" (pág 189- Vinte e quatro Melros)

" A porta só abriu depois do intervalo de tempo correto.
Um exemplar perfeito da espécie mordomo estava parado contra a luz do hall.
- O senhor Benedict Farley está?- perguntou Hercule Poirot.
O olhar impessoal o observou da cabeça aos pés, de maneira inofensiva, porém, eficiente. 
En gros et en détail, pensou Hercule Poirot" (pág. 209- O sonho)

" Greenshaw foi o homem que a construiu?
_ Foi. Em 1860 ou 1870, por ai. O grande acontecimento local da época. Um garoto sem nada que construiu uma enorme fortuna. A opinião local divide-se quanto ao motivo que o levou a construir essa casa , se foi para mostrar a opulência da riqueza  ou para impressionar seus credores. No segundo caso não os impressionou. Ele foi á falência do mesmo jeito, ou quase isso. Daí o nome , a extravagância de Greenshaw." (pág. 241- A Extravagância de Greenshaw)

Esta deliciosa coletânea de contos , segundo a própria autora, foi para relembrar os antigos Natais que passava no Norte da Inglaterra em sua juventude.
São contos de certa forma leves, porém bem elaborados, como tudo o que ela escreve.
Em um total de seis contos, o "carro chefe" por assim dizer, posto que a autora considera esta reunião de contos uma verdadeira ceia, sendo os contos os pratos, é sem dúvida A aventura do Pudim de Natal, pois não somente é o conto mais interessante, como também aquele que remete às antigas tradicões natalinas nas casas de campo britânicas.
Poirot, muito a contragosto, aceita um convite para passar o Natal em uma antiga casa do século XIV, com receio de morrer ao frio, mas encontra ali um caso interessante de um roubo de uma jóia meticulosamente escondida dentro de um dos pudins natalinos.
Os demais contos também giram em torno de pequenos furtos, assassinatos, muita tradição gastronômica e falsas pistas para enganar o leitor.
Com esta pequena pérola gastro-literária, Agatha Christie presenteia o leitor com sua sagacidade, bom humor e raciocínio lógico sempre  presentes nas demais obras, porém de maneira mais descontraída, como se contasse histórias à beira da lareira na noite de Natal.
Enjoy!