Causas Nada Naturais, P.D. James, Companhia das Letras, 2011, São PauloTítulo original: Unnatural causes, Faber, 1967, UKA Editora Francisco Alves publicou anteriormente com o título de Um cadáver Mutilado, em 1985.
" O cadáver sem mãos estava deitado no fundo de um pequeno barco à vela à deriva, não muito longe do litoral de Suffolk. Era o corpo de um homem de meia- idade , um cadáver pequeno e bem apessoado, cujo sudário, um terno escuro risca de giz,caía com tanta elegância na morte quanto caíra naquele corpo franzino" ( pág.9)
"Ao norte, Dalgliesh podia distinguir com alguma dificuldade os muros baixos de seton HOuse, pouco mais de uma excrescência na beira do penhasco onde Maurice Seton, autor de romances de detetive, havia construído em conformidade com sua vida excêntrica e solitária" (pág. 20)
"Não pode ser Maurice. Ele nunca sai de barco. Maurice não gosta de velejar"O inspetor avançou em direção à luz e se pronunciou pela primeira vez:Ele não estava velejando ,minha senhora. O senhor Seton estava morto no fundo do barco. Morto, com as duas mãos decepadas nos pulsos" ( pág. 39)
"Sabidamente, Seton tinha sido visto vivo pela última vez em Londres, mas seu corpo mutilado fora lançado ao mar da praia Monksmere." (pág. 113)
"Causas naturais, senhor Dalgliesh. Ele morreu de enfarte ( pág. 143)
Este livro trouxe-me algumas boas surpresas, as quais não esperava posto que foi escrito em 1967.Como por exemplo a coragem com a qual P .D. James fala sobre a triste condição feminina, a submissão, os rótulos sociais impostos à mulher, admirei os laivos de feminismo presentes no livro, os quais passarei a citar mais adiante em um parêntese necessário.Como esse é um livro no qual a maioria dos personagens são escritores, há muitas referências à histórias sobre crimes reais, o que torna mais interessante a narrativa ( cito algumas passagens no final da resenha). Referências essas que são feitas no capítulo em que o Cadaver Club no é apresentado, um clube frequentado por Seton, no qual cavalheiros se reuniam para conversar sobre crimes e assassinatos. Este é mais um caso para o inspetor Dalgliesh, o personagem conhecido pelos fãs da autora, de férias em Monksmere Head, na agradável companhia de sua tia Jane, respeitada ornintóloga e escritora nas horas vagas, aliás como quase todos no vilarejo , no qual ele acompanha os policiais locais na investigação da morte de Maurice Seton, escritor de livros policiais.Os suspeitos são os moradores da região, amigos do escritor e também sua secretária particular, Sylvia Kedge, cuja deficiência física despertava ao mesmo tempo pena e repulsa no pequeno círculo de Monksmere.Há também o meio- irmão de Maurice, Digby, suposto herdeiro direto da fortuna deixada pelo irmão morto.Pouco a pouco os álibis são colocados pelos suspeitos e investigados pela polícia local, que poucas pistas tem para trabalhar, além de um manuscrito deixado por Maurice , no qual descreve exatamente a forma como encontrou a morte.Celia Calthrop, uma das suspeitas, admite que a ideia para aquela forma de morte veio dela mesma, quando aconselhava Maurice a ser mais assertivo nos inícios de seus romances policiais.A investigação avança e uma revelação paradoxal é feita pelo legista: que Seton morrera de enfarto e suas mãos foram decepadas post-mortem.Todos parecem querer acreditar, o que facilitaria suas vidas e próprios álibis, mas Dalgliesh parece não estar convencido.Ele inicia uma investigação paralela à da polícia de Monksmere Head, a fim de descobrir a verdadeira história por trás da morte de Maurice Seton.P.D. James, escreve muitíssimo bem, muitas vezes comparada à Agatha Christie, como sendo sua sucessora, tem o mesmo estilo britânico, o humor britânico como Agatha Christie, é verdade. Mas P.D. James tem, a meu ver, uma escrita mais politizada, mais feminista, embora o ponto seja novelas policiais, mas introduz sutilmente sua posição diante do patriarcado. Lembrando sempre que esse livro foi escrito em 1967.Passo a citar alguns trechos onde aprecem, além do humor britânico sarcástico de que tanto gosto, algumas referências às mulheres na sociedade.
" (...) Ele vem dando indicações de que esse livro será diferente dos outros...nada do tipo de seu típico romance de detetive. Ele é um artesão muto cuidadoso, e não gosta de lidar com nada que não faça parte da sua experiência pessoal. Nós todos sabemos disso. Lembram-se de como ele passou três meses viajando com uma circo itinerante antes de escrever Morte no trapézio ? É claro que isso sugere certa deficiência em matéria de imaginação criativa. Os meus romances nunca se restringem à minha experiência pessoal.Considerando o que aconteceu com sua heroína, Celia querida, fico aliviado em ouvir isso, disse Justin Bryce. (pág.31)
"Pensou com carinho na silhueta alta e angulosa da tia à sua espera. (...) A mãe dela, mulher mimada, de beleza frágil e, como a própria tia costumava admitir, o pior tipo de esposa para um cura erudito da zona rural, aparentemente pensava que tal sinceridade justificasse e desculpasse por antecipação qualquer arroubo de egoísmo ou excentricidade de sua parte." (pág.14)
"Jane Dalgliesh que mereceu o respeito mas nunca o amor dos membros da paróquia, fez o que precisava ser feito, e se consolou com o estudo dos pássaros. Após a morte do pai, os documentos que ela publicou, registros de uma observação meticulosa, proporcionaram-lhe alguma notoriedade; com o tempo, o que a paróquia chamava com desdém de ' o pequeno hobby da srta. Dalgliesh' a transformou em uma respeitadíssima ornitóloga amadora." (pág. 15)
" Fazia doze anos que a srta. Calthrop havia comprado Brodie's Barn, 'o celeiro de Brodie', que rebatizara de Rosemary Cottage, ' chalé do alecrim'.(...) e o transformara de maneira igualmente barata, depois de importunar delicada mas insistentemente a mão de obra local, no ideal romantizado das leitoras de seus livros." (pág.18)
"No início, Jane Dalgliesh tinha sido excluída dos convites, não por não se apresentar como escritora, mas por ser uma mulher solteira, solitária e idosa,e, portanto, segundo a escala de valores da srta. Calthrop, um fracasso social e sexual que merecia apenas ser tratada com uma gentileza algo desdenhosa." ( pág 18)
" O Cadaver Club é um estabelecimento tipicamente inglês, no sentido de que sua função, embora difícil de definir-se de forma precisa, é compreendida com perfeição por todos os interessados. O clube foi fundado por um advogado em 1892 para servir de local de encontro para cavalheiros interessados em assassinato(..) O clube é exclusivamente masculino: mulheres não podem ser sócias ou frequentar suas dependências.(...) Ali, o assassinato evoca a imagem de uma empregada doméstica da era vitoriana, toda paramentada com boina e fitas, espiando pela porta de um quarto para ver Adelaide Bartlett preparar o remédio do marido; ou então a mão esguia de alguém, esticada por entre as grades de um porão em Edimburgo oferecendo uma xícara de chocolate quente e, quem sabe, arsênico: ou o dr. Lamson distribuindo bolos de fruta redondos durante o último chá promovido por seu rico cunhado; ou ainda, no calor do verão de Massachusetts, Lizzie Borden percorrendo às escondidas a silencosa casa de Fall River com um machado na mão"( pág.161)
"Nas prateleiras de ficção, uma pequena seção tinha as poucas primeiras edições que o clube possuía: obras de Poe, Le Fanu e Conan Doyle (...) (pág.166)
"O mesmo valia para uma Bíblia com a assinatura de Constance Kent na folha de rosto" ( pág.166)
Houve uma adaptação do livro em 1993 com a seguinte descrição: Unnatural Causes - ITV- P. D. James Mysteries Series- 7Deixo o link para o filme completo no Youtube
" O cadáver sem mãos estava deitado no fundo de um pequeno barco à vela à deriva, não muito longe do litoral de Suffolk. Era o corpo de um homem de meia- idade , um cadáver pequeno e bem apessoado, cujo sudário, um terno escuro risca de giz,caía com tanta elegância na morte quanto caíra naquele corpo franzino" ( pág.9)
"Ao norte, Dalgliesh podia distinguir com alguma dificuldade os muros baixos de seton HOuse, pouco mais de uma excrescência na beira do penhasco onde Maurice Seton, autor de romances de detetive, havia construído em conformidade com sua vida excêntrica e solitária" (pág. 20)
"Não pode ser Maurice. Ele nunca sai de barco. Maurice não gosta de velejar"
O inspetor avançou em direção à luz e se pronunciou pela primeira vez:
Ele não estava velejando ,minha senhora. O senhor Seton estava morto no fundo do barco. Morto, com as duas mãos decepadas nos pulsos" ( pág. 39)
"Sabidamente, Seton tinha sido visto vivo pela última vez em Londres, mas seu corpo mutilado fora lançado ao mar da praia Monksmere." (pág. 113)
"Causas naturais, senhor Dalgliesh. Ele morreu de enfarte ( pág. 143)
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