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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Rose Madder- Stephen King


               Rose Madder- Stephen King


Rose Madder, Stephen King, Objetiva, 1996, Rio de Janeiro.
Título Original: Rose Madder, Viking,1995.





" -Nunca mais- murmurou. Enfiou a bolsa debaixo do braço e deu os primeiros doze passos para o espesso nevoeiro que era agora seu futuro." (pág.32)

"Eu retribuo, sussurra uma voz no fundo de sua mente. Mais cedo ou mais tarde, pequena Rosie, eu retribuo.Quer você queira ou não, eu retribuo." (pág.623)

Desta vez não vou dizer muito sobre o livro porque qualquer coisa que eu possa dizer a respeito não pode dar sequer uma ideia do que lá está dentro.
Literalmente.
Digo literalmente porque se formos fazer um paralelo entre o livro e o quadro que está dentro do livro, então é mesmo literalmente.
O leitor não faz mesmo ideia do que lá está inside...
Confesso que o livro surpreendeu-me imenso e por duas boas vezes como diria o próprio King, "por duas boas vezes", tive a sensação que tento passar a meus alunos de Leitura, que é a sensação de estar dentro do quadro, a observar e ver nitidamente e permitam-me acrescentar, cheia de medo, a cena final do quadro rose madder.
Para o leitor que tiver uma ótima imaginação, vai ver nitidamente indizível imagem da qual estou a falar.
"Rose Madder" é um livro surpreendente.
Um livro sobre a força de uma mulher, Rosie, cansada dos mau tratos do marido policial Norman (???) Daniels, e um dia, depois de catorze longos anos de provações extremas, (que também não vou contar,pois só mesmo lendo para se ter noção do quão cruel pode um ser humano ser.) saí de casa com o cartão de crédito do marido rumo ao desconhecido e podem apostar que é mesmo desconhecido.
Norman inicia uma obsessiva perseguição à sua esposa e fará tudo para encontrá-la e resgatar o que lhe pertence.Um autêntico psicopata.
Também é um livro no qual a mente sombria e criativa do autor está impecável e energicamente presente.
Stephen King no seu melhor, o ritmo da narrativa é dinâmica, capítulos curtos, uma expectativa sempre crescente.
Quando Rose entra no quadro pela segunda vez, pode segurar-se no sofá, na cama, onde quer que você esteja a ler, porque o portal vai abrir-se bem à sua frente.
Pode esperar.
Rose Madder, é um dos melhores trabalhos que já li do autor.
Sombrio.
Denso.
Terrível.
Forte.
Libertador.

Ainda não há nenhuma adaptação para o livro, mas creio que nas mãos de Michael Bay, não ficaria nada mau....
Ou sam Raimi, também seria uma boa opção....enfim....

domingo, 17 de junho de 2012


DEPOIS DA MEIA-NOITE - STEPHEN KING





Depois da Meia-Noite, Stephen King, Francisco Alves, l992, Rio de Janeiro.
Título original- Four Past Midnight


Gosto bastante deste livro, porque estes contos, particularmente têm todos como tema aquela tênue linha entre a realidade e um universo paralelo; ou ainda, a linha tênue entre a sanidade e a insanidade, que, ao que parece, é fácil de ser transposta.
Os contos deste livro tratam de pessoas normais, levando a vida dentro de suas rotinas, quando são surpreendidas por um acontecimento que despoleta o inimaginável, que abre portas e em alguns casos, janelas, para a entrada do absurdo.
Em todos, há um momento crucial, porém naturalíssimo, em que o "clic" se faz, um divisor de águas, que, uma vez transposto, bastando somente um único dedo do pé além da linha, não há volta a dar.
São quatro, por isso o título, "Four past midnight", e a meia noite não é a que os relógios marcam, o tempo físico, é o tal tempo suspenso, onde não sabemos, de facto, de que lado estamos.
Cuidado, leitor, onde pisa.


Meia-noite e um- Os Langoliers (The Langoliers)
 " Foi quando Brian sentiu algo- algo assim como um choque- começando a abrir caminho até o fundo de sua mente. Foi quando sentiu que toda sua estrutura de ser pensante organizado começou a deslizar lentamente para algum abismo insondável."(pág. 50)


O piloto do avião da American Pride,Brian Engle, pousa no aeroporto de Los Angeles e recebe a notícia de que sua esposa morreu em um incêndio. Apanha outro avião  a fim de comparecer ao enterro.Mal senta-se adormece quase de imediato.
Ao acordar, apercebe-se que quase todos os passageiros desapareceram e que está prestes a aterrissar em um aeroporto vazio no Maine.
Brian, que assume o comando do avião juntamente com o que resta dos passageiros, inicia uma busca por respostas para que consigam ter para onde voltar. Porque, assim de repente, a América toda está vazia.
Afinal, para onde terão ido as pessoas? Quem são os Langoliers?
"Os Langoliers" transformou-se numa minissérie para TV em 1995.
Se estiver a pensar voar nos próximos tempos, deixe para ler o conto quando voltar. 


                                     Uma Fenda no tempo, 1995






Meia-noite e dois- Janela Secreta, Secreto Jardim(Secret Window, Secret Garden)


"Algumas vezes, no entanto, as janelas se quebram. Creio que, mais do que qualquer coisa, esse é o interesse dessa história: o que acontece ao observador de olhos arregalados quando a janela entre a realidade e a irrealidade se quebra, quando as vibrações começam a voar." ( Stephen King, nota introdutória, pág 228)


De todos os contos deste livro, este é o meu preferido.
Mort Rainey,  escritor, após o divórcio vai viver para a casa de campo do casal no Lago Tashmore a fim de escrever seu livro.
Certa manhã, é surpreendido por um estranho que lhe bate à porta acusando-o de plagiar sua história.
Mort despacha o homem e diz que não o conhece e muito menos a história da qual é acusado de plágio.
John Shooter antes de sair, deixa a cópia de sua história na varanda. A cópia é encontrada pela senhora da limpeza e entregue a Mort.
Ao ler a história de Shooter, Mort percebe uma certa semelhança com a sua. Lembra-se então, que publicou a sua em uma revista  antes de a publicar em livro.
Ao ser confrontado com essa nova informação, Shooter dá a Rainey três dias para provar que "Tempo de Plantar" foi escrita antes de "Janela Secreta, Secreto Jardim".
Mort telefona a ex- esposa que iria a casa do casal apanhar a revista, fica a saber que a residência havia ardido.
Desesperado, procura seu editor que fica de enviar um exemplar da revista pelo correio. Quando a recebe, nota que as páginas onde estavam seu conto, foram arrancadas.
Numa sucessão de infortúnios por conta da tal história, com as ameaças e pressão de Shooter, o escritor passa a ter flashes confusos de memória sobre a história, sobre a traição da esposa que culminou no divórcio, sobre o jardim secreto por trás da janela da casa de campo.
A narrativa começa a baralhar o leitor á medida que o próprio personagem vai perdendo a noção da realidade.
Um desfecho surpreendente é o que espera o leitor, se olhar atentamente pela  pequena janela que vai dar ao jardim....
A adaptação do conto rendeu um bom filme onde  Johnny Deep no papel de Mort, e John Turturro como Shooter, recriaram na perfeição o espírito do conto original.



Janela Secreta, 2004





Meia- noite e três- O Policial da Biblioteca (The Library Policeman)


" Sam tivera uma vida comum, cheia de prazeres comuns e comuns arrependimentos; uma vida sem análises exageradas. Nunca vira seu nome em grande evidência, porém jamais tivera qualquer motivo para questionar a própria sanidade. Agora via-se deitado em sua cama desalinhada e perguntando-se se era assim que uma pessoa despencava do mundo real, racional. Se era assim que começava quando alguém perde o juízo." (pág. 441)


Sam Peebles, um cidadão comum, é chamado para substituir um colega seu que sofrera um acidente e que iria discursar na Noite do Orador dos rotarianos.
Ora, querendo dar o seu melhor, vai até a biblioteca de Junction City em busca de livros de oratória.
Na sala antiga da biblioteca, a senhora Ardelia Lortz o ajuda a encontrar os livros e adverte que terá de os devolver até o dia marcado caso contrário o Policial da Biblioteca iria fazer uma visita desagradável.
Sam passa por alguns percalços que o impedem de devolver os livros a tempo.
Quando volta a biblioteca esta já não é a mesma, está mais modernizada e a antiga funcionária que o atendeu já lá não está.
Sam fica confundido e só depois percebe que na verdade coexistem duas bibliotecas e terá que enfrentar o Policial da Biblioteca se quiser voltar a ter dias de paz.
Fico a imaginar esse conto na série "Twinlight Zone" encaixa-se na perfeição.
A preto e branco, estilo anos 60, a visita do Policial da Biblioteca, enorme, rosto oval e olhos grandes....
E logo eu que sou frequentadora assídua de bibliotecas ai de mim se um dia entrasse em uma delas e trá lá lá, trá lá lá estivesse num episódio da "Twinlight Zone..." Great!


Meia- noite e quatro- O cão da Polaroid (The Sun Dog)


" Entretanto, nessa noite o sono não chegou para Kevin com facilidade.Acordado em seu quarto, ele ouvia um forte vento de fim de verão sacudindo  as folhagens no exterior em sussurrante conversa, enquanto refletia no que levaria a câmara a bater sempre a mesma foto, sempre, sempre e sempre, e o que isto significaria. Somente começou a escorregar para o sono quando sentiu que tomara uma decisão: continuaria por mais algum tempo com a Polaroid Sun." (pág.538)

Kevin ganha pelo seu aniversário de quinze anos uma Polaroid.
Ao testar a câmera, vê que esta tira a mesma foto repetidas vezes.
O que a foto revela é um cão negro em frente a uma cerca branca de madeira.
Intrigado, o rapaz leva a máquina a um senhor, Pop Merrill,  para que ele a conserte.
Entretanto o senhor fica seduzido pela máquina e começa a disparar fotos sem saber que está aproximando cada vez mais o cão do mundo real. Cada foto disparada equivale a um movimento mais próximo do animal.
Kevin terá que ser rápido o bastante para impedir o salto do cão para fora da foto direto para o mundo real.
Enquanto realizadores e produtores ficam por aí a fazer "remakes" de filmes de terror dos anos 80 e 90, poderiam pensar em algo mais interessante como "O Cão da Polaroid"





sábado, 12 de maio de 2012



       A CASA DO PASSADO- Algernon Blackwood








A Casa do Passado,Algernon Blackwood,Record, 2001, Rio de Janeiro.










Ora, ler Algernon Blackwood fica mais fácil para o leitor habituado a ler Lovecraft, porque em ambos cada qual á sua maneira, o leitor vai encontrar um universo totalmente á parte, povoado por seres vindos de outras dimensões ou por seres que ganham vida através da imaginação de seus personagens. Num meio fio entre a ficção sobrenatural e a científica, o autor trabalha os nervos do leitor, mergulhando-o nos cenários mais improváveis que consegue criar com maestria.
Em "A Casa do Passado", destaco dois dentre os dez contos que compõem o corpo do livro, um deles, "Os salgueiros" por ser um clássico do autor inglês nascido em 1869, e " A boneca" justamente por esse conto conseguir criar a atmosfera sobrenatural na figura de uma simples boneca capaz de atemorizar uma casa inteira. Vamos a isso.


OS SALGUEIROS- The Willows, primeira publicação, 1907


"E, á parte a força dos elementos, percebi que os salgueiros se conectavam diretamente com  minha inquietação,atacando a mente através de seu poder coletivo,representando, em meu mundo imaginário,uma nova força, que nada tinha de amistosa" (pág. 248)


"Havíamos feito um "desvio", como o Sueco dissera, e caíramos numa região de enormes riscos, embora desconhecidos; uma região onde as fronteiras de um mundo misterioso estavam muito próximas."(pág.283)


No conto "Os Salgueiros" dois amigos descem em um pequeno barco pelo Danúbio e acampam numa zona repleta de salgueiros, que com as cheias, fica completamente isolada.
Conforme o tempo vai passando o lugar vai exercendo sobre ambos uma tensão opressiva, que vai influenciar drasticamente o comportamento dos amigos.
Começam a surgir as alucinações, as visões noturnas, a desconfiança, o medo, os sons, a desordem emocional, levando os personagens ao limite da sanidade.
A opressão malígna do lugar e principalmente dos salgueiros a fechar o círculo, fá-los pensar em alienígenas e zonas quadridimensionais tamanha a falta de explicações racionais para aquilo que os envolve e persegue. Num crescente, o conto torna-se um jogo aterrorizante entre presas e predador.
Blackwood consegue pôr o leitor alerta como se realmente alguma coisa se aproximasse, não se sabe de onde para nos encurralar. Um conto para se ler de olhos bem abertos. Imagino esse conto nas mãos de um roteirista de "The Twilight Zone". Seria incrível.


A BONECA- The Doll, publicado pela primeira vez em 1946


A figura das bonecas (os) tem dado largas á imaginação de alguns escritores e realizadores de filmes de terror, como no caso de "Child Play (1988) no qual o boneco Chucky ganha vida e aterroriza a família de Andy Barclay. Ou, em "Dolls" (1987) onde um casal estranho acolhe alguns viajantes para pernoitar em sua mansão numa noite de chuva e eles descobrem que a mansão abriga uma bizarra fábrica de bonecas. Bonecos e bonecas também estão associados a práticas de vodoo. Estes objetos inanimados por vezes podem ser bem sinistros. Neste conto, não é diferente.


"Para determinar em que ponto exato os fatos relatados resvalam pela fronteira do desconhecido e do fantástico, seria preciso observar tudo como se olhássemos uma teia de aranha através de um telescópio.Com o olho no telescópio, a teia de uma aranha da  Nova Zelândia parece feita com cordas imensas. Mas se o olho examina relatos de segunda mão, a teia nada mais é, que uma trama impalpável." (pág. 80)


Neste conto, um pacote é entregue por um estranho numa noite fria de novembro aos cuidados do coronel Masters á sua cozinheira. Assim que tem ciência do seu conteúdo, o coronel manda queimar o embrulho.
A desobediência à sua ordem dá início a um tenebroso enredo sobrenatural envolvendo o conteúdo do pacote (uma boneca) e os restantes ocupantes da casa.
No decorrer da narrativa vão-se apresentando especulações das empregadas da casa acerca da boneca e do patrão, são pequeninos flash-backs que trazem ao leitor o cruzamento das opiniões.
A governanta, Madame Jodzka acaba por descobrir que a boneca afinal não é um brinquedo inocente. Ela tentará desvendar a misteriosa  e sinistra aura que acompanha o objeto e sua relação com o passado do coronel Masters na Índia.
O leitor mais susceptível,poderá ficar a pensar durante uns dias depois de lê-lo, o mais experiente nessas "andanças" deve estar imaginar uma abordagem psicanalítica para além da abordagem meramente sobrenatural.
Faça sua escolha. Ou se calhar, não.