domingo, 23 de setembro de 2012



 Lenta, Lentamente ao vento-Patricia Highsmith




Lenta,Lentamente ao vento, Patricia Highsmith, Livros do Brasil, 2000,Lisboa
Título original-Slowly, Slowly in the Wind,1979

Fechando o primeiro mês Highsmith, porque outros seguir-se-ão, trago-vos "Lenta, lentamente ao vento." que é uma coletânea dos contos mais interessantes que já li da autora. Embora, seja suspeitíssima para falar dela.
São contos mais sinistros e amargos que "A Casa Negra", e por incrível que pareça dão a soturna ideia de que pode acontecer-nos a qualquer momento passar por situações descritas no livro.
E, se calhar, teríamos as mesmas atitudes....Mas para isso seria preciso que tivéssemos ultrapassado a fina barreira entre a sanidade e o outro lado...
Examinemos mais de perto três deles....

O LAGO
" - Este lago- começou a dizer, depois interrompeu-se, pois tinha tanto a dizer sobre ele-Mandei drená-lo há alguns dias, mas já está cheio outra vez..."(pág.272)

"Quando olhou para o lago soltou um pequeno grito.As plantas tinham regressado. Pareciam mais fortes que nunca- não mais compridas,na realidade, mas mais densas."(pág.279)


Elinor Sievet muda-se de Nova Iorque para uma casa de campo com o filho por alguns meses após a morte do marido.
No vasto quintal da propriedade havia um lago com uma particularidade desanimadora, mesmo quando era drenado, enchia-se novamente, e para mais plantas esquisitas com raízes contorcidas, não paravam de crescer ao fundo.
Elinor fartava-se de dizer a Chris de apenas quatro anos para manter-se afastado do lago.
A fim de manter o lago limpo, comprou uma carpa mas a água do lago poderia talvez ter alguma substância nociva aos peixes, pois a carpa morreu logo depois.
Intrigada, Elinor volta a chamar so senhores que haviam drenado o lago da primeira dez, para fazê-lo novamente e retirar as plantas.
Ficaram de lá ir no dia seguinte. Entretanto, o pequeno Chris cai no lago e afoga-se com os pés presos nas plantas.
Isto meus caros, é somente o começo da história....
Este conto lembra bastante os bons contos góticos com aquela atmosfera sinistra, inexplicável que nos causa medo sem ter propriamente uma causa forte.
Ficava bem num episódio de Twilight Zone! Ah, se ficava!
Venham conhecer a casa de Elinor, mas mantenham-se loooonge do pequeno lago, sim?

LENTA, LENTAMENTE, AO VENTO...
"O prazer de Skippeton era agora vigiar o campo de milho do seu quarto no primeiro andar com os binóculos x10.Adorava ver o vento agitando as altas hastes de milho em redor do cadáver do velho Frosby(...) Rodopiando lentamente ao vento(...)" (pág.312)

Ora, este conto é um dos meus preferidos do livro, embora quando comecei a lê-lo, pensei que seria mais uma daquelas histórias de brigas entre donos de quinta por seus pedaços de terra, e quando muito aconteceria de um deles acabar por atirar no outro.
Ledo engano....
Se assim fosse, não seria um conto escrito por Patricia Highsmith, não é verdade?
Bem, Skippeton é um senhor de muito mau gênio e natureza agitada, devido a  um ataque cardíaco, tem ordens médicas para retirar-se para o campo, e descansar.Compra então a propriedade Coldstream Heights, no Maine, onde passa a viver.
Margaret, sua única filha, estudava na Suiça e pretendia passar as férias de verão com o pai.
Peter Frosby, possuia uns terrenos contíguos ao seu e Skippeton gostaria de comprá-los, mas o vizinho estava interessado na venda.
Assim começa uma rija entre os dois e com a chegada de Margaret para o verão, as coisas tendem a piorar pois ela apaixona-se pelo filho de Frosby e foge com ele para casarem.
Uma vez que o que não tem remédio, remediado está, o velho Skipp convida Peter para ir lá a casa no domingo de manhã já que agora eram da família. Antes, dispensa o caseiro Andy  fica a sós com Peter.Já planejava mata-lo.
Bem, o assassinato de Peter, é só o começo da história....
Incrivelmente bem engendrado, o conto tem um final surpreendente!
Confira, leitor amigo, mas...cuidado ao passar pelo campo de milho, onde o vento balouça lenta, lentamente....

AQUELAS HORRÍVEIS MADRUGADAS

"Muito sabia Mrs.Crabbe sobre acordar às cinco da manhã com os gritos de uma criança, ou com Stevie ou George a baterem-lhe na cara quando estava a dormir apenas há duas horas e lhe doía o corpo todo.Era nessas alturas que ela ou Eddie lhes batiam.Nessas horríveis madrugadas."(pág. 324)

Confesso que este conto me deixou com náuseas e com uma sensação estanha mesmo depois de acabar de ler.
É talvez um dos contos mais horríveis de Patricia Highsmith, pois trata-se de maus tratos e negligência infantil.
Quem tiver, ou já teve a oportunidade de ler sua biografia,vai descobrir que ela não gostava de crianças.E neste conto, explicita isso.
Porém não é somente de crianças que trata, trata de uma família numerosa, um pai impaciente, uma mãe cansada do casamento, um apartamento pequeno demais para os cinco, e um acidente trágico dentro de casa.
E, o que é mais espantoso é que essas famílias existem, e mães como Laura não são difíceis de encontrar.
Escrito de maneira fria, sem piedade com as palavras, e como sempre perfeito, esse conto, embora tenha me causado más sensações, é um retrato triste de como as famílias são frágeis.








   

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