Estranha Presença-Sarah Waters
Estranha Presença, Sarah Waters, Record, 2010,Rio de Janeiro.
Título original: The Little Stranger.
The Little Stranger, Sarah Waters, Riverhead Books , 2009, UK
"Vi Hundreds Hall pela primenria vez quando tinha 10 anos. Foi no verão depois da guerra quando os Ayres ainda tinham quase todo o seu dinheiro e eram gente importante no distrito." (pág.7)
" - Oh doutor, não é como uma casa normal, não é mesmo! É grande demais! A gente tem que andar uns 2 quilômetros para chegar a qualquer lugar. E é tão silenciosa que causa arrepios." ( pág.17)
" - É tão surpreendente assim, com essa família tão sombria? Afinal, a mente subliminar tem muitos cantos obscuros, infelizes. Imagine algo se soltando de um desses cantos." ( pág. 338)
" Nunca tentei lembrar Seeley, de sua outra e mais estranha teoria:de que Hundreds foi consumida por um germe obscuro, uma criatura das sombras, voraz, " estranha presença" gerada pelo inconsciente perturbado de alguém ligado com a própria casa.(...) imagino que o segredo está prestes a me ser revelado.Que verei o que Caroline viu e o reconhecerei. (pág. 441)
Cá estamos nós outra vez ás voltas com uma história de fantasmas.
Tipicamente inglês.
O enredo parece corriqueiro do gênero: uma grande propriedade centenária e decadente, Georgiana, diga-se, uma família sem posses vivendo isoladamente na casa, e uma " estranha presença" que só se faz notar quando quer e para quem quer.
Sarah Waters tem uma escrita fluída, calma, bem situada, sem rodeios desnecessários apesar de alguns capítulos serem longos e descritivos.
Temos o Dr Faraday, médico de família do condado, sendo chamado às pressas para assistir a uma criada da casa ( para usar um termo da época). Desta forma, Faraday é apanhado na teia da casa e da família sem que tenha vontade de escapar.
Apaixonado por Caroline, a filha dos Ayres, tenta ajudar a família a se reerguer, enquanto vai tentando um tratamento ao filho mais velho Roderick, também herdeiro de Hundreds Hall. retornado da guerra, e prestes a perder sua sanidade mental.
Aos poucos, vamos sendo introduzidos no ambiente sombrio e claustrofóbico da casa, seus segredos, revelações e ao relacionamento entre Faraday e Caroline, tão estranho quanto esperado.
O casamento anunciado de ambos, gera dúvidas entre os noivos, como se algo conspirasse para que não se pudessem unir.
A velha propriedade vai dando seus primeiros sinais de que mais alguém ou algo se instalou em seus cômodos, quando o filho mais velho começa a ver e ouvir sons e imagens que supostamente não lá estão, culminando no seu internamento em uma instituição psiquiátrica para nunca mais regressar.
Como em "And then there were none"de Agatha Crhistie, um a um os membros da família são levados a cometer atos dos quais não poderão mais safarem-se.
Mas ao contrário do livro citado, resta um, que luta incessantemente para descobrir o que de fato, ocorreu em Hundreds Hall bem debaixo do seu nariz, como se costuma dizer.
Em algumas passagens o romance lembra um outro grande escritor Henry James, em seu inesquecível " The turn of the Screw" quando em tom de conversa o doutor Seeley tenta alertar Faraday para as manifestações psíquicas com origem em sentimentos reprimidos, em contraposição à história de que um fantasma habitaria a casa.
Interessante a intertextualidade, ainda que implícita, pois realmente nos faz pensar se os fenômenos ocorridos na casa não foram libertados por anos e anos de repressão por um dos membros da famíla.
Recomendo a leitura com uma boa chávena de chá e biscoitos amanteigados.
Recentemente o livro foi adaptado para o grande ecrã, com estreia prevista para este ano. No elenco temos Ruth Wilson no papel de Caterine e Domhnall Gleeson como Dr. Faraday. Veja o trailer:
Assista também ao Booktrailer sobre The Little Stranger
Cartaz de lançamento do filme:
Banda Sonora:
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