domingo, 19 de agosto de 2012



       A Volta do Parafuso- Henry James




A Volta do Parafuso, Henry James, Martin Claret, 2007, São Paulo
Título Original- The Turn of the Screw, 1898.

" Ela era jovem, inexperiente, nervosa; tinha pela frente a perspectiva de sérios deveres e grande solidão." (pág.21)

"- Eles não revelam detalhes.Apenas expressam seu pesar por não ser possível mantê-lo lá. Isso pode ter um significado- (...) Que ele pode representar um perigo para os outros alunos." (pág.29)

"Enquanto isso,Miles ergueu-se novamente com as mãos nos pequenos bolsos, dando as costas para mim- parou e olhou pela janela, através da qual, outro dia, eu tinha visto o que me atordoava.(...) E disse:
- Bem, enfim estamos sós!
-Oh, mais ou menos.-Imagino meu sorriso pálido.
- Não absolutamente. Nós não gostaríamos disso!- continuei.
- Não, suponho que não. É claro que temos os outros.
- Temos os outros, de fato.- concordei.
- Contudo, embora os tenhamos- ele devolveu, tendo ainda as mãos nos bolsos, e em pé diante de mim-eles não contam muito, não é?
Eu tentava fazer o melhor possível, mas sentia-me abatida.
- Depende do que você chama de "muito"!
- Sim- com todo o respeito- tudo depende." (pág.132/133)



A Volta do Parafuso é um dos livros de leitura obrigatória para quem se interessa pela ficção Vitoriana.
Traz uma história de fantasmas mas também um excelente thriller psicológico.Talvez a segunda vertente seja a mais indicada, uma vez que a tensão psicológica é tão forte que acaba por se tornar um personagem.
Henry James foi perfeito em criar um ambiente físico bastante favorável ao desenvolvimento da trama. Praticamente estendeu o tapete vermelho para a atmosfera ambígua instalar-se comodamente no lugar.
Uma casa de campo vitoriana isolada da cidade, com um imenso jardim à volta, um lago que o circunda...
É para este local isolado que uma jovem de vinte anos, filha de um pároco vai trabalhar como preceptora de duas crianças, Miles e Flora.
Tendo instruções bem claras de que não deve incomodar o patrão, tio das crianças, em hipótese alguma por isso ele delegou a ela poderes totais na educação das crianças e como governanta da propriedade, de nome Bly.
Quando chega a Bly, é recebida pela senhora Grose, que era então a responsável pela propriedade e tomava conta dos miúdos há anos.
E pela pequena Flora, sua futura pupila. Miles, ainda estava interno no colégio que frequentava.
Dias depois a governanta recebe uma carta do colégio a dizer que o miúdo não seria mais aceito na escola, por causar problemas a alguns colegas.
Uma vez que Miles regressa a casa, acontecimentos estranhos tem início.
As crianças começam a portar-se mau, desatentas, dissimuladas, insolentes e  porque não dizer cruéis. Miles principalmente sempre a confrontar a preceptora, depois a fazer-se de inocente e meigo confundindo-a com atitudes ambíguas.
As supostas aparições de Quint e da Senhorita Jessel antigos empregados de Bly já falecidos vem culminar na tensão e desequilíbrio da preceptora que passa a desconfiar que além dela, os miúdos também conseguem ver os fantasmas embora não o admitam, e que são influenciados por eles.
Firme nesta convicção, ela confronta-se com Miles na tentativa de obter respostas, mas a tentativa terá um final trágico.
"A Volta do Parafuso" é a volta da tensão psicológica que pode, entre outras hipóteses, levar uma pessoa à loucura.
Se lido uma segunda vez é fácil notar que isto pode perfeitamente ter acontecido com a preceptora. Ou até mesmo numa primeira leitura se o leitor distanciar-se o suficiente dos fantasmas.
O ambiente isolado, a repressão da época, as responsabilidades, o desejo de não decepcionar o patrão, tudo pode ter culminado num stress tamanho que levou-a à perda temporária da razão.
Outra forma de ver a história é acreditar que os fantasmas em Bly eram de fato, reais.
Cada volta do parafuso parece destinar-se a por os nervos da personagem em frangalhos e a meu entender, tenta também confundir sutilmente o leitor e pô-lo á prova.
Miles. Enquanto esteve no colégio nada de anormal aconteceu na casa, assim que entra em cena, coisas más começam a acontecer. Ora, segundo a idéia da preceptora, o rapaz estaria influenciado ou até mesmo possuído pelo fantasma de Quint.
Mas... e se Miles por si só fosse a encarnação do maldade? Se tivesse má índole? Se ao cabo fosse um rapaz de natureza má?
Foi expulso do colégio por molestar alguns colegas, o texto não especifica o que aconteceu, mas ele próprio confessa que dizia" coisas más" aos colegas.
Acredito que Flora, ao mudar de comportamento estaria sendo influenciada pelo irmão, e não pelos fantasmas.
Acredito que a história toda criada à volta dos fantasmas, seria uma metáfora para encobrir ou até mesmo justificar os atos perversos de Miles, inaceitáveis na Era Vitoriana.
Bem isso sou eu a viajar..

MAIS UMA VOLTA....
Lembro ainda que a história é narrada por um personagem, um amigo de um certo Douglas a um grupo de amigos numa noite de inverno. Toda ela estava
em uma carta enviada pela preceptora ao rapaz antes de morrer.
Há algumas semelhanças na relação entre Douglas/ Miles e a preceptora.
Parece um déjà vu: a mesma diferença de idade, a mesma cumplicidade,a mesma sensação desconcertante.
Estaria Miles e a governanta vivendo uma relação platónica apesar da diferença de idade?
Seria Miles o causador de toda a perturbação na senhorita? É a partir da chegada de Miles que ela começa a ver os fantasmas.
Cito uma fala de Miles já perto do final do livro que parece encaixar-se bem na ambiguidade desta história:
"- Sim- com todo respeito- tudo depende!" (pág.133)
Ao leitor amigo, aconselho e recomendo a leitura desta pequena pérola vitoriana.

The Turn of  the Screw foi adaptado para o cinema duas vezes, a primeira em 1961, com o título de The Innocents, a segunda adaptação levou o nome de "The Nightcomers", 1971, e ainda inspirou o contemporâneo "The Others", 2001.
Curiosamente, 1961, 1971 e 2001.




The Innocents- 1961





The Nightcomers- 1971




The Others- 2001









2 comentários:

  1. Olá Fabiana, é um prazer estar em seu blog! Esse livro parece ser realmente muito interessante. Das adaptações para o cinema, minha preferida é "Os que Chegam com a Noite". Abraços!

    ResponderExcluir
  2. Obrigada Nelson, honra minha tê-lo aqui,acabei de passar pelo teu blog, está perfeito e completo como sempre. Infelizmente ainda não vi "Aqueles que chegam com a noite", vou vasculhar lá no Horror e Suspense a ver se há...abraço.

    ResponderExcluir