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domingo, 16 de dezembro de 2012




  Precisamos falar sobre o Kevin- Lionel Shriver





Precisamos falar sobre o Kevin, Lionel Shriver, Intrínseca, 2012, Rio de Janeiro
Título Original, We Need to Talk About Kevin, 2003.

"O que deu em nós? Éramos tão felizes! Então por que motivo retiramos todas as nossas fichas e as pusemos nessa aposta ridícula de ter um filho?" (pág. 22)

" E será que um feto tem sentimentos? Eu não tinha como antever que continuaria fazendo essa mesma pergunta a respeito de Kevin quinze anos depois." (pág.79)

" A drª Rhinestein não testou a possibilidade de existência de malícia, indiferença rancorosa,  ou maldade congênita. Se fosse possível, pergunto-me quantos peixes não atiraríamos de volta."(pág.92)

"Peguei-o na semana seguinte, lendo Robin Hood sozinho.Mais tarde ajudei vocês dois a comprar o primeiro conjunto de arco e flecha na loja de artigos esportivos.(...) (pág.281)

"Porém o que mais me admirou foram os seus olhos. Comumente, eles tinham o ar baço daquela película verde-azulada das maçãs por lavar- vazios e sem foco, (...)" (pág.405)

Ora, começar a falar deste livro é difícil por vários motivos, primeiro porque ainda me sinto nocauteada por ele, segundo porque ele é brilhante, terceiro porque admitindo ter um lado a quem defender, não foi com certeza o do pai de Kevin, bom moço, que eu escolhi. Isto me incomoda.
So, We Need to Talk about Kevin não é um livro fácil de ler, principalmente se o leitor não estiver acostumado com o lado real da vida, o leitor que por ventura espera ver aqui um mero drama familiar, pode abandoná-lo já agora, e nem sequer pegá-lo nas mãos.
Para ler "Precisamos falar sobre o Kevin, temos que estar despidos totalmente da hipocrisia social e convencional, porque assim que o livro será narrado pela mãe de Kevin, Eva, em missivas ao marido ausente.
O livro trata, sim de um drama familiar, mas é mais profundo que isso, trata da maldade pura de um menino, desde seu nascimento até seus dezoito anos, data em que seria transferido para um estabelecimento prisional para adultos,posto que foi detido aos dezesseis, após um massacre em sua escola.
Kevin desde o nascimento iniciou um braço de ferro poderosíssimo com a mãe, a qual por seu turno não ficou lá muito contente quando ele nasceu.
Ao longo de sua infância foi dando continuidade a seus instintos maléficos dentro da própria casa, desafiando os pais, e despertando a proteção de Frank, seu pai, que o perdoava sempre e sempre tinha uma palavra para defendê-lo.Ao chegar ao final do livro vamos descobrir que isso tudo foi perda de tempo e de que maneira!
Quando finalmente vai para a escola, Kevin não faz diferente, instigador de maus atos, abusa psicologicamente de colegas que se tornam seus escravos, com uma marcante presença é notado pela professora de inglês, que depois de muito o observar, partilha com a mãe a mesma opinião: Kevin é extremamente inteligente,e possui uma malícia e maldade dissimuladas,  mas reais.
Quando a irmãzinha de Kevin nasce, as  coisas começam realmente a complicar-se e tornarem-se mais sérias para a família.
O que terá Kevin guardado para o final?
O leitor observa atônito o desenrolar da narrativa e sente-se solidário com a mãe, Eva, por ser a única a ter os olhos abertos e a coragem de dizer o que pensa, o que sente, o que sente vontade de fazer com esse filho que se fosse por ela nem teria nascido. 
O livro aborda com diplomacia a questão da culpa dos pais na criação de pequenos monstros como Kevin, mas afinal de quem é mesmo a culpa? Não será a própria criança que nasce com a predisposição para a maldade, ou neste caso específico Kevin foi capaz de perceber a rejeição de sua mãe ainda  antes de seu nascimento? Se assim for, escolheu-a como alvo a torturar e fazer sofrer, como podemos ver ao longo da narrativa até seu final redentor???? Dá o que pensar, pelo menos a mim....
Cruzando a narrativa vamos tendo os relatos dos Massacres mais comentados na mídia, como o de Columbine, por exemplo, ficamos a saber do rol de atrocidades cometidas nas escolas por estudantes que acordaram um dia e foram armados para a escola a fim de matar e mataram.Casos assustadores que nem sequer tínhamos ouvido falar até então.
O livro mostra que devemos estar atentos aos sinais que certos adolescentes e crianças vão dando, em casa, na escola, para encaminhá-los a um profissional antes que seja tarde demais.
Mostra também que fatalmente, nem sempre isso se concretiza, não porque um membro da escola ou da família não faz o alerta, mas porque a pessoa envolvida quando confrontada, tem tal poder de dissimulação e inteligência que fica o dito pelo não dito, e o pior acontece.
Cuidado com as" máscaras", com os olhares frios e vazios, com a dificuldade de interação, com a aparente serenidade e o sorriso educado.
Pode esconder um "pitboy" ou um assassino mirim em série.
Pode esconder um Kevin que um dia, aos dez anos ,ganhou de seu pai um conjunto de arco e flecha....

O livro foi adaptado magistralmente para o cinema por Lynne Ramsey em 2011
Veja o trailer do premiadíssimo We Need to Talk about Kevin






sábado, 21 de julho de 2012



                 Paranoid Park- Blake Nelson




Paranoid Park, Blake Nelson, Relógio D'Água, 2006, Lisboa.
Título Original, Paranoid Park, 2006


"Muitos dos melhores skaters vão pra lá, vindos da Califórnia, da costa leste, de todo o lado. Também é assim uma espécie de lugar de encontro para putos de rua. Há uma série de histórias, como aquele skinhead que lá foi esfaqueado uma vez. Por isso é que lhe chamam Paranoid Park. Tem aquele ar perigoso e meio inacabado."(pág. 12)


"Então fiz inversão de marcha e dirigi-me para o Paranoid park. Não sei em que é que estava a pensar. Não estava pronto para ir lá sozinho. Não era suficientemente bom. Mas, fosse porque motivo fosse, foi isso que u fiz." (pág.19)


"(...) E se eu fosse acusado de alguma coisa? Foi uma acidente; mas e se a polícia não visse as coisas dessa maneira? Ou se não tivesse sido um acidente?" (pág.32)


"Iam apanhar-me de certeza. As pessoas iam lembrar-se. Ou será que não?"(pág.42)


"Em novembro já não havia mais referências ao homicídio de Paranoid Park. Já não aparecia na televisão nem nos jornais."(pág.153)


Paranoid Park é um parque de skate frequentado por adolescentes e jovens para praticar suas habilidades de skaters.
É também o cenário de um crime disfarçado de acidente. Ou vice versa.
É a história de como às vezes o culpado safa-se à vontade e com folga à la Mr. Ripley. Sorte?
É um livro tenso, bem escrito e dinâmico. Um drama dos dias de hoje: você que é pai, mãe, sabe o que anda a fazer seu filho adolescente? Se não sabe, deveria.
O narrador, é um adolescente como os outros, estudante, mora com os pais, pratica skate nas horas livres, tem amigos e namorada.
Vai ás vezes ao Paranoid Park que é frequentado por toda a sorte de pessoas, por isso os "betinhos" tem que lá estar por sua própria conta e risco.
O narrador, volta sozinho uma noite ao parque e um acidente trágico acontece.
A narrativa toma um rumo tenso, quase paranóico a partir daí.
O rapaz sem saber como agir, e não tendo firmeza o suficiente para disfarçar a tensão, entra num turbilhão de pensamentos conflitantes, alternando entre picos de coragem e retrocessos.
Sua vontade de contar ao pai, ou á namorada é sempre um fracasso devido ao medo das consequências.
O nervoso miudinho aumenta quando a polícia vai a escola entrevistar os skaters. O detetive Brady torna-se mais presente no cotidiano do garoto, fato esse que vem agravar o stress, uma vez que está sempre a espera de ser apanhado.
Brady paira como uma sombra na vida do garoto, como se soubesse a verdade, mas só quisesse a confirmação, uma confissão.
Sobretudo o adolescente torna-se um ser atormentado pela própria consciência, pelo peso da s=decisão que poderá mudar sua vida para sempre.
Ou segue sua consciência e conta o facto tal qual se passou à polícia, ou cala-se e segue sua vida a espera de ver o que acontece.
E o leitor, o que faria? Seria capaz de conviver com um segredo que o atormentasse pelo resto da vida?


Paranoid Park foi adaptado para o cinema pelo realizador Gus Van Sant, em 2007.