domingo, 1 de dezembro de 2013


   Mortalha para uma Enfermeira- P.D.James




Mortalha para uma enfermeira, P.D.James, Companhia das Letras, 2011, São Paulo.
Título original: Shroud for a Nightingale, 1971.

" Na manhã do primeiro assassinato, a srta. Muriel Beale, inspetora das Escolas de Formação de Enfermeiras junto ao Conselho Geral de Enfermagem, já estava acordada pouco depois das seis da manhã e, com um certo desânimo matinal, lembrou-se de que era segunda-feira, 12 de janeiro, dia da inspeção do Hospital John Carpendar." (pág. 7)

"Uma placa pintada de branco apontava para a direita e dizia: "Mansão Nightingale, Escola de Enfermagem.
Trocou de marcha e virou com cuidado.(...)
As árvores cresciam bem perto do caminho e suas copas se entrelaçavam no alto,de modo que os pesados ramos escuros formavam um túnel sombrio." (pág.15)

"Sentiu-se estranhamente isolada naquele silêncio sombrio; de repente foi tomada por uma ansiedade irracional, uma sensação bizarra de viajar fora do tempo, em alguma nova dimensão, sendo arrastada para um horror incompreensível e inevitável." (pág,.16)

Pois é desta mesma maneira que o leitor de "Shroud for a Nightingale" sentir-se-á, quando pousar os olhos nas primeiras páginas deste que é, na minha opinião, uma dos melhores da autora.
Antes porém de falar um pouco sobre o livro, devo fazer um aparte pequenino: há muitos anos, em minha infância ainda, tinha ( e ainda tenho) uma amiga e vizinha chamada Beatriz que por sua vez tem uma irmã mais velha, a Arilda.
A Arilda vivia em São Paulo já naquela época, e quando vinha de visita à família ou passar férias, era comum vê-la a circular pela casa, pela vizinhança, mas sempre com uma distância mantida, posto que ela era" a irmã mais velha que morava em São Paulo". Isto meus caros era sinal de respeito naquela altura,  principalmente em uma cidade pequena como a nossa.
Anos se passaram, cada qual seguiu sua vida, saí do país, estive fora por quase quinze anos e eis que ao regressar, conversando com a Beatriz, descubro que a Arilda além de fazer parte das minhas memórias da infância, tem em comum comigo o gosto pela literatura de suspense, de boa qualidade, que fique assente nos autos.
E foi através dela, ainda que indiretamente, que este livro me chegou às mãos. 
E o que é mais interessante é que tal como na infância, nós não nos vemos, nem nos falamos, os livros chegam a mim através da irmã, e há uma certa magia nisso.Como nos livros....
Por isso, essa postagem é dedicada a ela.

"Mortalha para uma Enfermeira" é um dos melhores livros que já li dentro de seu gênero. 
P.D.James  além de escrever sempre uma boa história policial, inclui nela um elemento que considero magistral neste tipo de literatura: o gótico.
E neste livro ele está representado fisicamente pelo edifício onde fica a escola de enfermagem Nightingale House, cuja descrição é magistralmente construída e também presente na figura do "fantasma" de Nancy Gorringe, ou ainda na sensação de ameaça invisível que paira ao redor de toda a mansão.
"Além disso, seria extremamente difícil manter o prédio aquecido de forma adequada, e aqueles janelões góticos, pitorescos, sem dúvida, para quem gostava daquele tipo de coisa, deviam bloquear quase toda a luz.
Para piorar, havia algo sinistro, assustador mesmo, naquela casa.(...) era realmente lamentável abrigar jovens estudantes naquele monstrengo vitoriano."

"Ele não era supersticioso, mas a sua sensibilidade imaginativa rendia-se à atmosfera."

Temos a sensação de estarmos em um filme noir dos anos 50.
A trama gira em torno dos assassinatos de duas estudantes de enfermagem em Nightingale House, o inspetor Dalgliesh, da Scotland Yard, é chamado para abrir as investigações do caso aparentemente fácil de resolver.
Porém o caso assume contornos mais complexos e o levam a investigar o passado das enfermeiras, médicos, assistentes, estudantes, todos os possíveis suspeitos dos assassinatos.
Inteligentemente bem feita a narrativa faz com que o leitor queira aguçar seus "dons detetivescos" numa parceria com o agente Dalgliesh a fim de desvendar o mistério.
 As   personagens sobretudo femininas são bastante consistentes, determinadas e inteligentes: " Ali estava uma mulher  aparentemente sem graça, que dedicava a vida a um só objetivo com uma dedicação extraordinária. Se algo- ou alguém- se interpusesse no caminho daquilo que ela considerava um bem maior, até onde sua determinação a levaria? Para Dalgliesh ela parecia uma mulher antes de mais nada, inteligente.Mas o assassinato com frequência era o último recurso dos sem-inteligência.
E teriam sido aqueles assassinatos obra de uma mulher inteligente?"
Ou ainda:
"- Exatamente, disse Dalgliesh. A senhorita é uma mulher muito inteligente."
 (...) Mas o que o conselho paroquial da igreja faria com sua inteligência determinada era outro problema. Desejou não ter que prendê-la por assassinato antes que eles tivessem a oportunidade de se decidir." (pág.211)

E, tendo que lidar com suspeitos ardilosos e inteligentes, Dalgliesh terá que superar a si próprio a fim de solucionar o caso.
Porém o fará com maestria.

Um livro altamente recomendável, para ler e voltar a ler sempre que a saudade de uma atmosfera gótica, nas noites de inverno, se fizer ouvir.

Capa da edição britânica:


possivelmente a edição de 1971
Edição Americana:




Edição Portuguesa da Europa-América:







Para ler um trecho da edição em inglês siga o link:

http://www.amazon.co.uk/Shroud-Nightingale-Baroness-P-James/dp/0571230059

Houve uma minissérie em 1984 porém não encontrei nenhum vídeo disponível para postar.

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