terça-feira, 5 de junho de 2012

    O Deus das Moscas- William Golding



                                                    



O Deus das Moscas, William Golding Colecção Público Mil Folhas n°7, 2002,Porto.


Título original- The Lord of the Flies.


"- Estão todos mortos- tornou o Bucha- e estamos numa ilha. Ninguém sabe que estamos aqui. O teu pai não sabe, ninguém sabe... (pág 13)


"- Caluda!- intimou Rafael distraidamente. Ergueu a concha- Parece-me que precisamos de um chefe que tome decisões.
-Um chefe.Um chefe.
- Eu devo ser o chefe- propôs Jack com simples arrogância- , porque sou corista de capítulo e chefe e turma. Sei cantar. (pág 21)


"Arrancou o facão da bainha e arremessou-o contra o tronco de uma árvore.Para a próxima vez não haveria piedade." (pág.31)


"Que somos nós? Humanos? Ou animais? Ou selvagens? Que irão pensar de nós os adultos? Escapamo-nos...para caçar o porco-bravo...para deixar apagar o fogo...e agora isto!" ( pág.99)


"Pretender que eles eram ainda rapazinhos, rapazinhos do liceu que diziam 'Sim, senhor doutor'! e traziam boné? " ( pág.206)




Sempre que releio este livro, vem-me à cabeça o título daquele filme de Martin Scorsese, "Tudo bons rapazes". O filme nada tem a ver com o livro, mas o título sempre me recorda esses rapazinhos...
Stephen King em seu livro de não ficção, "Dança Macabra", coloca "O Deus das Moscas" em sua lista de livros favoritos. E eu entendo porquê.
"O Deus das Moscas" não é um livro de terror, nem um policial, mas trata da maldade inerente no ser humano, do primitivismo, da crueldade, no seu melhor. No seu melhor porque está, neste livro, em sua forma mais crua e selvagem, em estado bruto. É a descoberta do poder e da violência. É como uma "Lagoa Azul" ao contrário.
O enredo : um grupo de crianças inglesas sofre um acidente de avião e vão ter a uma ilha onde terão que sobreviver até que chegue socorro.
A princípio mantém-se unidos, receosos e assustados com o ambiente hostil da ilha.
Sem um adulto sequer para os orientar e confortar, os rapazes iniciam-se na caça, pesca,construção de abrigos e distribuição de tarefas.
Porém os dias vão passando e o parafuso começa sua volta...
Um grupo de crianças urbanas numa ilha deserta.
De onde não podem sair sozinhas.
Deixe o tempo passar e o pior de cada uma delas vem ao de cima.
É a natureza da maldade que aos poucos se mostra.
O grupo divide-se, surgem dois líderes,a confiança se quebra, a crueldade dita as regras e o caos se instala.
Penso onde ficaria então, a máxima de Rousseau "O Homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe", se calhar, não fica.
Rapazinhos recém saídos de suas boas famílias, de suas escolas britânicas, como a narrativa vai dando a entender ao leitor,meninos de coro, como o próprio personagem Jack se auto denomina, transformam-se praticamente em selvagens num ambiente bucólico, natural e desabitado da ilha...
Ora, em que ficamos? 
Na minha opinião, cada um deles chegou àquela ilha com sua cota de crueldade, hostilidade, selvageria, sob o espartilho de uma educação aprimorada, e sob o hábito de respeitar e obedecer regras, na escola, na família, na sociedade.
Quando se viram sem ter a quem responder por seus atos, estando por sua própria conta e risco,as regras sociais cairam por terra e ficou apenas aquilo que todos somos na realidade: animais em luta pela sobrevivência.
William Golding nos mostra aqui um livro perturbador, que pode ser explorado em vertentes sociais, filosóficas, antropológicas.
Podemos explorar a natureza humana, o fator genético, a maldade nata, a luta pelo poder, a liderança levada ao  extremo, o darwinismo,o bullying, com certeza o leitor atento descobrirá por si, as mensagens sublinhares.
Tudo isso em um grupo  de crianças, numa ilha, fechados a céu aberto, como ratos de laboratório.
Ao invés da máxima de Rousseau, prefiro o velho ditado cigano: "No meio de lobos, uiva como eles"
O livro foi adaptado para o cinema em 1963,( o livro, publicado na Inglaterra em 1954), dirigido por Peter Brook.
Também teve uma segunda adaptação em 1990.


Um livro indispensável para toda a gente, principalmente pais e educadores.




                                 Lord of the Flies, 1963







Para  aqueles que passam a vida com lentes cor de rosa....



Um comentário:

  1. "É como uma "Lagoa Azul" ao contrário." Esse comentário sintetiza muito bem a obra! Realmente esse livro é demais gera muuuuuuita discussão! Ótima resenha! Assistirei aos filmes e documentário! ;)

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