Flávio Moreira da Costa (organização)
Os melhores contos de Medo,Horror e Morte,Flávio M.da Costa/organização, Nova Fronteira, 2005, Rio de Janeiro.
Nota- favor ler o texto e ao chegar a Good dreams, ouvir o vídeo de seguida.Cool !
Este livro reúne vinte e seis contos divididos em duas partes. A primeira, tem o nome de MEDO, SUSTO E HORROR e é onde, na minha opinião estão concentrados os melhores contos e os melhores autores.
A segunda vem como MEDO, CLIMA E COTIDIANO, onde também há bons contos e autores como Nathaniel Hawthorne. mas um nadinha deslocados dos da primeira parte.
Destes vinte e seis escolhi oito porque me pareceram consistentes e bem escritos, além de realmente fazerem juz ao título desta antologia.
Como alguns de seus autores ficaram, por assim dizer, esquecidos ao longo dos séculos, o que é lamentável, deixarei uma brevíssima biografia para que o leitor se tiver interesse, possa ler outros trabalhos desses mesmos autores. E saber um pouco sobre eles.
Leitura de preferência com o corpinho aconchegado na cama,no inverno, em seu quarto, na falta de um castelo medieval ou uma mansão como por exemplo, a Sleep Hollow. Good dreams!
Entraram no clima? Então não saiam!
Primeira parte- Medo, Susto e Horror
O Capitão Assassino- Charles Dickens
Bem ,Charles Dickens creio que dispensa apresentações, para quem teve uma infância sem internet e Playstation é bem provável que se lembre dele. Para a geração "plugada" com certeza vai se perguntar quem é esse tipo?
Não quero parecer uma velha mas continuo a achar que uma infância sem livros significa uma vida adulta sem graça nenhuma. Pronto.
Voltando ao Dickens, ele sempre foi um escritor que retratou a infância triste e desafortunada como ninguém, mas também foi um escritor que aterrorizava pobres criancinhas com suas histórias com personagens bem maus como é o caso do conto "O Capitão Assassino"
Neste conto, vamos conhecer a história de um senhor chamado Capitão Assassino, ora, já se sabe que neste momento que sabemos o nome do personagem estamos mesmo no centro da imaginação de Dickens, quem mais daria um nome assim? Igualmente sabemos que estas histórias eram passadas oralmente quase sempre pelas babás com o intuito de assustar os pimpolhos.
Capitão Assassino coleccionava casamentos, e noivas, como devem imaginar.
A cada casamento depois de um mês ele chamava sua noiva e lhe apresentava um rolo dourado e um tabuleiro de prata. Trazia também ingredientes básicos para a massa de uma torta salgada.
Quando a esposa abria a massa com o rolo e o estendia no tabuleiro, sempre vinha a pergunta:
_"Querido Capitão Assassino, vai ser uma torta de quê?" (pág.44)
A resposta que elas ouviam, a ouviam uma única vez. Capitão Assassino cortava-lhes a cabeça, picava-as em pedaços, recheava as tortas e as comia.
Assim ia fazendo até que um dia a irmã gêmea de uma das noivas falecidas, resolve dar-lhe uma lição.
Esse conto curtíssimo parece mesmo ter sido feito para as amas contarem às crianças antes de as deitar. Porque na verdade, essa história foi contada ao ao autor quando criança.
Esse ambiente mágico embora assustador não mais se encontra nas ficções atuais, nem de longe.
Na Era Victoriana, era comum que os contos, histórias infantis fossem mesmo cheias de monstros e pessoas perversas. É aí que começam os problemas psquiátricos meus caros.
É interessante que ao dirigir-se ao personagem como Capitão Assassino, é o mesmo que no conto "Capuchinho Vermelho" a menina chamar o lobo por Sr. Lobo. Era assim que funcionava.
Embora seja um conto simples e quase infantil, vale a pena conhecer, mais não seja para saber que fim terá levado o nosso Capitão Assassino.
Estampa comemorativa do bicentenário de Dickens
O Travesseiro de penas- Horacio Quiroga
Alicia era uma moça sonhadora, após três meses de casamento e a viver numa casa antiga e gelada começou a sentir que a moradia lhe estava a influenciar os ânimos além do desencanto com os modos rudes do marido.
No outono começou a perder peso e contraiu uma leve gripe da qual não mais se recuperou.
O médico de família não encontrava a causa de tamanho desfalecimento, pois uma gripe não seria suficiente para deixar a pobre moça naquele estado.
Depois de uma noite de fortes alucinações e horrores passados, Alicia ganhou uma forte anemia.
O curioso era que no decorrer do dia ela parecia melhor, mas mal despertava,estava lívida e exaurida.
Como era de prever, Alicia acaba por falecer. A criada, ao retirar os lençóis da cama nota que o travesseiro estava com pequenas manchas de sangue, pareciam picadas.
O marido, Jordán, pede à criada que ponha o travesseiro mais perto da luz, ao levantá-lo, apercebe-se de seu peso fora do normal.
Resolve então abri-lo ao meio com uma faca, as penas, esvoaçaram,e deixaram bem visível bem ao meio, o motivo da doença de Alicia e o que causou sua morte.
Sem dúvida, este microscópico conto é uma obra prima por concentrar num texto tão pequeno (o conto tem quatro páginas) um relato completo e assustador. Típico também dos temas da Era Victoriana, embora esse conto tenha ultrapassado um pouco a época, o conto tem os elementos do romantismo gótico como a moça sonhadora, a casa desagradável, a propensão á doenças inexplicáveis, monstros e pesadelos noturnos .
A explicação que o autor dá para a doença e morte de Alicia, é típica de Lovecraft ou Poe.
Vale á pena ler o conto. Mesmo à pena.
Caso seja difícil ter acesso ao livro, o conto é facilmente encontrado na internet em PDF. Leiam!
Horacio Quiroga (1878-1937)
Uruguaio, admirador de Edgar Allan Poe, teve uma vida marcada por tragédias sendo uma delas a morte do pai, morto acidentalmente por si mesmo com um disparo de pistola, depois perdeu o padrasto, e ao inteirar-se de um câncer na próstata, suicidou-se aos 58 anos, bebendo cianureto.Para além de contos de horror, Horacio Quinoga escreveu poemas e novelas com outros temas, incluindo infantis. Seus principais trabalhos são:
Los arrecifes de coral ( poemas, 1901)
El crimen del otro ( cuentos, 1904)
Historia de un amor turbio ( novela,1908)
Cuentos de amor de locura y muerte ( cuentos,1917)
Cuentos de la selva( cuentos infantiles)
Anaconda (cuentos, 1920)
O Estranho incidente na vida do pintor Schalken- Sheridan Le Fanu
Este conto tradicional narra, como o próprio nome indica, um acontecimento muito estranho na vida de Schalken.
Ora, este pintor holandês, discípulo de Gerard Douw, era apaixonado pela sobrinha do mestre, mas nunca chegou a desposá-la.
Deu-se o caso de, numa certa noite, estando Schalken ainda no estúdio ter sido visitado por um desconhecido que trazia uma recado de um tal Mynher Vanderhausen, o qual gostaria de falar urgentemente com Gerard na noite seguinte.
Quando se dá o encontro, Mynher diz ter a intenção de casar-se com Rose Velderkaust, sobrinha de Gerard. É marcado então, um jantar para que a noiva conhecesse o pretendente.
Assim que este chega, todos os presentes ficam sem ação perante a cor pálida de sua fronte e o ar maligno de sua face.
Muito conta gosto o casamento se realiza dias mais tarde e o novo casal pasaa dias e dias sem dar notícias.
Certa noite, após o jantar, Schalken e Gerard estavam à lareira a fazer a digestão quando ouviram na porta da frente um grande estrondo, como o de uma pessoa a embater contra ela.
Era a pobre Rose, desfigurada, pálida e exausta a pedir alimento, vinho e abrigo. A moça pedia um ministro o mais rápido possível, pois tinha algo revelador para contar.
Mal ela é deixada sozinha no quarto, enquanto o tio ia providenciar o ministro, a porta do quarto é fechada por uma rajada furiosa de vento.
Os gritos da moça por socorro impeliram o tio e seu discípulo a investir contra a porta na vã tentativa de arrombá-la. Quando os gritos cessaram no aposento a porta cedeu e mostrou o espaço completamente vazio!
Anos e anos depois, Schalken precisou viajar até Roterdão por ocasião do enterro de seu pai.
Foi aí então que teve duas visões espectrais imortalizadas num de seus quadros, e das quais ficou convencido até o dia da sua morte.
Este conto, como a grande maioria dos textos de sua época, vem retomar a atmosfera do conto anterior "O travesseiro de penas" onde prevalece o sobrenatural e situações grotescas por explicar.
As visões que o personagem teve, no jazigo do pai explicam o paradeiro de Rose e a natureza de seu esposo.
O quadro pintado por ele, é o que inicia o conto, quando amigos anos depois falam sobre a pintura.
Em nossa época atual, tais contos podem soar ingênuos ou fantasiosos, mas na época eram mesmo aterrorizantes.
Creio, como leitora experiênte na literatura gótica e de terror, que de uns séculos para cá muito (mas mesmo muito) se perdeu do real conceito de "gótico" e "horror", para dar lugar ao terror com cabeças a rolar, violência gratuita e banhos de sangue e gritos.
Quem não leu uma boa dose dos chamados " romances góticos" não vai entender a idéia que autores como Bram Stocker, Sheridan Le Fanu, Lovecraft, Robert Louis Stevenson ou até mesmo Emily Bronte, tinham de horror.
Entretanto, como para tudo há uma primeira vez, nada melhor que começar pelos contos, como preparação para a leitura dos romances góticos.
Bons contos nunca vão faltar.
O Hóspede de Drácula- Bram Stocker
"Os mortos viajam rapidamente"(pág.79)
Se o leitor já leu Drácula, do mesmo autor, este conto com certeza vai lhe soar de outra forma de quem não leu.
Provavelmente vai fazer ligações com o livro e tentar encaixá-lo na história.Provavelmente também vai imaginar o personagem inglês do conto, como sendo Jonathan Hacker. E tais ligações estarão corretas, porque este conto era para fazer parte do romance original de Stocker mas foi retirado pelos editores, segundo consta,por tornar o livro demasiado extenso.
A narrativa é bastante interessante, um rapaz inglês de passagem em um hotel em Munique sai pela manhã a passeio com Johann, o cocheiro que é advertido pelo dono do hotel para voltar antes do anoitecer. Primeiro porque uma tempestade se aproximava e segundo porque aquela era a noite de Walpurgis, noite em que, segundo a lenda, bruxas e demónios ficavam à solta pela floresta.
No decorrer do caminho passa por uma pequena estrada e o rapaz diz a Johann que gostaria de seguir por ela. Mas o cocheiro recusa-se a passar pela estradazita porque acreditava que o vilarejo aonde ela ia dar era amaldiçoado.
O rapaz dispensa então o cocheiro e continua o caminho à pé. Logo na sequência, vai dar a um bosque cerrado e, com a chegada brusca da tempestade e neve, o rapaz vai ter a um cemitério onde procura abrigo em um jazigo. Com a queda de um raio sobre o mármore do jazigo, viu o cadáver de mulher levantar-se e gritar.
Preparando-se para sair dali, ouviu uivos de o que lhe pareceu lobos, e quando deu por si estava caído ao chão com um enorme e pesado lobo sobre seu corpo dificultando sua respiração. Por segundos desmaia e quando volta a si o lobo já lambia-lhe a garganta.
Por milagre um grupo de soldados chega em seu auxílio.
Já de novo ao hotel, o pobre rapaz agradece ao Sr. Delbruck e pergunta como foi que os soldados o encontraram no bosque.
O dono do hotel explica que havia recebido um telegrama do boyar de quem o rapaz era hóspede ordenando que fosse atrás dele caso o suspeitasse em perigo e entrega ao rapaz o telegrama.
Ao lê-lo, o inglês fica atônito, assim como o leitor!
Gostei imenso do conto. Muito bem escrito sim senhor. Bram Stocker aterroriza e surpreende de maneira magistral. Mesmo quem ainda não leu "Drácula" vai com certeza gostar do conto.
Algumas adaptações do conto foram feitas e vale á pena dar uma espreitadela.
Dracula's Guest - animação
Dracula's Guest- apresentação
Os Ratos nas Paredes- H.P. Lovecraft
Howard Phillip Lovecraft.
Ora aí está um senhor com o qual eu gostaria de ter tido longas conversas à lareira em noites de inverno após o jantar.
Como diz Flávio Moreira Costa "este autor não tem leitores, tem adeptos".
O primeiro livro de Lovecraft que li foi Nas montanhas da loucura e a partir daí tento ler sua obra inteira. E ainda vou a meio....
Os Ratos nas Paredes não foge ao universo lovecraftiano, universo, aliás, extremamente desencorajador se o leitor for impressionável e propenso a pesadelos ou insónias.
Para entrar pá ante pé em Lovecraft, nada melhor que começar pelos contos, porque se o leitor suportar uma média de vinte páginas por conto, estará pronto para narrativas mais extensas.
O conto escolhido para a postagem é um bom exemplo do quão longe pode a imaginação do autor chegar.
No ao de 1923, o narrador mudou-se para o Priorado de Exham, residência de seus antepassados, que permanecera vazio até então.
De descendência dos De la Poer, o narrador sofrera ostracismo por parte dos campônios que não viam com bons olhos a restauração e ocupação da casa. Eles sabiam muito bem a genealogia amaldiçoada a qual pertencia o novo proprietário.
Tendo como parceiro de pesquisas um amigo do filho já falecido, o capitão Norris, o narrador fica a saber fatos horríveis e macabros sobre seus antepassados. Mas nada o preparara para o que viria a seguir.
Poucos dias depois de instalar-se na nova morada, o narrador nota uma inquietude fora do normal em seu gato, Nigger-Man. O animal ora arranhava as paredes de pedras antigad do escritório, ora fixava o olhar na tapeçaria suspensa na parede.
Seu dono aproximou-se da parede e pareceu-lhe ouvir e passo a citar, "um inequívoco tropel de ratos e camundongos. Súbito, o bichano arremeteu contra a parede de pedras muito antigas e úmidas, remendada aqui e ali pelos restauradores e livres de qualquer vestígio de intrusos roedores." (pág.101)
Com sucessivas noites de incômodo quer por pesadelos, quer pelo ruído dos ratos nas paredes, o narrador vai buscar ajuda de Norris para juntos fazerem uma incursão ao subporão da casa.
O que eles descobrem na cripta subterrânea fazem-nos procurar ajuda de um famoso arqueólogo. A nova expedição ao subporão vai não só revelar os segredos macabros e inimagináveis dos De la Poer,como também levar o narrador á beira da loucura.
Os Ratos nas Paredes é um conto de leitura dinâmica, repleta de mitos, segredos, horror clássico de gelar o sangue.
Uma pequena amostra do melhor de Lovecraft em apenas vinte páginas.
Algumas adaptações do conto foram feitas em vídeo, e a versão áudio-book, esta, minha velha conhecida, tem a vantagem dos sons de fundo bastante reais que só fazem acrescentar riqueza ao conto.
Escolha sua versão leitor, em papel ou audio-book. Não há desculpa para não conhecer!
The Rats in the walls- Chapter1
Audio Book
A Ressuscitada- Emilia Pardo Bazán
Emilia Pardo Bazan, romancista e contista espanhola ( 1851-1921). Escritora naturalista, produziu uma obra relativamente extensa, principalmente bons livros de contos, embora no Brasil seus contos estejam publicados apenas em antologias.
O conto escolhido, já se entrega pelo título, suas quatro páginas conseguem concentrar literalmente um episódio inusitado e sinistro,sobre o qual imagino o personagem Jud de "Pet Sematary" (Stephen King) a dizer a Louis Creed: "ás vezes estar morto é melhor".
Somente para aguçar,vou citar um trecho do conto,pois se fizer um breve resumo, estaria comprometendo a surpresa do final, ou mesmo até comprometendo-o todo,afinal são quatro páginas meus senhores!
"Ardiam os quatro círios soltando gotas de cera. Um morcego, desprendendo-se da abóbada, começava a descrever curvas trôpegas no ar. Uma forma escura, frágil, deslizou rente às lápides e subiu com sombria cautela por uma prega do pano mortuário. No mesmo instante abriu os olhos Dorotea de Guevara, deitada no túmulo.
(...) "Chamar, pedir ajuda àquela hora seria inútil. E de esperar o amanhecer na igreja solitária, não era capaz; na penumbra da nave acreditava que brotavam caras bisbilhoterias de espectros e soavam dolentes queixumes de almas penadas...Tinha outro recurso: sair pela capela do Cristo." (pág. 115)
Agora, caro leitor, cabe a si continuar a leitura....Não se vai arrepender com certeza!
Markheim- Robert Louis Stevenson
Robert Louis Stevenson ficou conhecido pelo seu clássico "Dr. Jekyll e Mr. Hyde e também nos brinda com este conto que fecha a primeira parte do livro.
Temos aqui o seguinte cenário: na noite de Natal, um rapaz, Markhein, procura um antiquário a fim de comprar uma prenda a uma senhora, que seria sua futura noiva.
A loja, que já estava fechada é apenas iluminada com a fraca luz de velas, o rapaz que busca um presente, há muito está falido, e ao longo dos seus trinta e seis anos de vida, praticou pequenos atos ilícitos.
O senhor que o atende, dono do antiquário, sugere um espelho como prenda, mas o rapaz rejeita a oferta dizendo que um espelho faz as pessoas lembrarem-se daquilo que são. Estaria ele provavelmente a falar de si mesmo.
Começam então uma conversa da qual o antiquário quer esquivar-se mas Markheim insiste em continuar, então o antiquário dá o ultimato: ou ele compra alguma coisa ou se vai embora.
Assim que o senhor inclina-se para apanhar outra prenda, estando portanto de costas para o rapaz, este o ataca violentamente com um punhal.
A partir daí, Markheim entra na paranóia de que alguém na rua poderia ter ouvido alguma coisa, que não estava sozinho na loja, que a empregada do antiquário poderia chegar a qualquer momento. Entra no processo semelhante ao do personagem Raskolnikov de Crime e Castigo.
Começa uma forte chuva quando ele aproxima-se da porta para fugir da loja, e um medo paralisante o impede de sair.
Retorna, e vai avançando pelas escadas a fim de encontrar outra saída. É aí que recebe um visitante inesperado:
"_ Está me chamando?- perguntou o estranho, gentilmente, ao mesmo tempo que entrava e fechava a porta atrás de si." (pág.154)
O visitante, faz uma proposta a Markhein se ele aceitar, terá sua vida financeira segurada, se recusar, poderá estar em sérios problemas.
Para quem já leu o conto "Button, Button" de Richard Matheson, terá uma boa idéia do peso de uma decisão assim.
O conto vai entrar nas questões da consciência do personagem, vai questionar a sua natureza, a questão de que se um ato criminoso isolado poderá influenciar outros futuramente, na verdade, Stevenson nos faz aqui um relato filosófico da natureza criminosa do ser humano através de Markheim.
Acho interessante poder relacionar um conto publicado em 1884, em uma revista e reeditado no ano seguinte, com o clássico de Dostoiéviski publicado dezenove anos antes(1866) e Button, Button, publicado pela primeira vez coincidentemente em uma revista também, em 1970.
Discursos sobre a natureza do bem e do mal, são atemporais.
Não deixe de ler Markheim e, se possível, Crime e Castigo e Button, Button.
Através do link abaixo pode-se ler o conto Markheim em inglês
http://www.eastoftheweb.com/sh
Segunda parte: Medo, Clima e Cotidiano
Uma Garrafa de Perrier- Edith Wharton
"Uma Garrafa de Perrier " é um conto de mistério. Mas também sobre limites.
E eu que já tantas garrafas bebi, jamais voltarei a beber outra sem lembrar-me deste conto.
O mistério começa por Medford não compreender as razões que levaram seu amigo inglês, Henry Almodham escolher viver no deserto.
Quando chega para visita-lo, depois de uma longa viagem de quatro dias, é avisado pelo criado que seu patrão saíra em uma expedição mas que o esperava na manhã seguinte.
Depois de já instalado e pronto para o jantar, Medford recebe de Gosling, o criado, a pergunta sobre o vinho ou champanhe que desejaria para a ceia; mas este recusa as bebidas dizendo não poder beber álcool por ainda estar a convalescer da malária que apanhara. Pede simplesmente água. Vem então a sugestão novamente de Gosling:
_"Digamos, uma garrafa de Perrier?
Perrier no deserto! Medford sorriu concordando(...) "(pág 315).
Ao dar-se conta que as garrafas de Perrier haviam acabado, Gosling informa que terão que esperar nova remessa.
Volta então a questão da água, que acaba por ser servida fervida e com limão.
No dia seguinte e nos três que se seguiram, a falta de notícias de Henry, e o mal odor da água dos banhos, começa a incomodar Medford.
Ele tem a idéia de sair a cavalo ao encontro do amigo, mas é dissuadido pelo criado.
Decide então, já com certas desconfianças a respeito da expedição, e do lugar, permanecer no local até que Henry regresse.
Diante dessa nova situação, Gosling que até então parecia controlado, assume outra posição na narrativa.
"Uma Garrafa de Perrier" é um conto sobre limite psicológico ,.
Sobre esticar a corda ao máximo a ver quando ela arrebenta.
Sobre tensão emocional levada ao extremo e sobre o que pode acontecer como consequência.
Ao lerem este conto, que tal uma Perrier bem fresca?
Afinal, se as garrafas não tivessem acabado e os homens não tivessem perdido a remessa no deserto....
Andem lá a ver o que se passou!
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