O Exorcista- Wiliiam Peter Blatty
O Exorcista, William Peter Blatty, 1ª ed, Gailivros, 2010, Alfragide
Título Original- The Exorcist
" O ancião apressou-se a regressar a Mossul e ao comboio que queria apanhar, levando no coração a convicção gelada de que em breve teria que enfrentar um velho inimigo." (pág. 15)
" Tal como acontece com os clarões breves das explosões dos sóis condenados a morrer, que são dificilmente perceptíveis pelos olhos dos cegos, quase nem se notou o início do terror." (pág. 19)
" E, depois sentiu finalmente o frio.Que dominava o quarto.O ambiente estava gelado. Sem fazer barulho, dirigiu-se à janela. Examinou-a. Estava fechada. Tocou no radiador. Estava quente." (pág. 21)
Engana-se o leitor se pensa que vai encontrar neste livro o sensacionalismo do filme homônimo de 1973.
Creio que este é um dos livros mais bem escritos dentro do gênero suspense/ terror. A narrativa evolui sutilmente de um cotidiano normalíssimo de uma família, para o horror da possessão e finalmente o exorcismo.
Sem no entanto perder de vista os demais personagens cujas histórias pessoais dão profundidade e riqueza ao livro.
Acho-o uma leitura de suspense de tirar o chapéu, sente-se, como já disse, uma um sutil crescente da tensão, como se tudo caminhasse a pisar ovos, num silêncio maléfico subentendido.
Quando a atriz Chris MacNeil se muda para Georgetown por motivos de trabalho, leva consigo sua filha de doze anos Regan, e o casal de meia-idade Karl e Willie seus funcionários na lida da casa.
Vivendo um momento de adaptação ao novo papel, nova casa e cidade, a senhora MacNeil é absorvida pelo cotidiano e mal dá por pequenas mudanças no comportamento de Regan.
Na noite em que dá uma festa para os colegas do trabalho,, a miúda aparece a meio da festa a dizer coisas desagradáveis e sem nexo aparente. Assustada, a mãe procura ajuda médica para Regan cujos diagnósticos são inconclusivos.
Certa noite quando a mãe está ausente, um amigo da família, Burke, aparece morto na escadaria exterior que dá acesso à casa, aparentemente atirado pela janela do quarto de Regan.
O detetive Kinderman inicia as investigações e o padre Karras, que também é psiquiatra, é procurado por Chris a fim de ajudar na solução do caso e trazer conforto espiritual á familía.
A posição da cabeça do morto totalmente voltada para trás, despoleta a hipótese de um ritual satânico, vindo de encontro com algumas profanações ocorridas na igreja próxima dias antes.
Como Regan não apresentava melhoras apesar da medicação e dos imensos testes psiquiátricos, e neurológicos, coloca-se a questão da possessão e de um possível exorcismo.
Padre Karras, descrente, tenta dissuadir Chris, mas esta se mostra irredutível.
A ajuda vem então, de um outro sacerdote, padre Merrin, bastante experiente em lidar com as forças do mal, e ambos tentam salvar a miúda.
Através do ritual do exorcismo eles vão desafiar o demônio Pazuzu e sofrerão as consequências.
Para além do tema do exorcismo, o autor explora e muito bem as questões da fé no personagem do padre Karras, atormentado pela falta de fé e pela culpa por estar longe da mãe que vive sozinha. Aborda também as questões da psiquiatria e neurologia, como explicação racional para a suspeita de possessão ao longo da narrativa.
"O Exorcista" é uma obra muito bem escrita, que acrescenta imenso à literatura do gênero, pode até não ser tão assustador quanto o filme, mas com certeza lhe é superior.
Diria que "O Exorcista" é um excelente livro de suspense, e que a questão do exorcismo em si, não está cá para aterrorizar os leitores, mas para mostrar a nossa vulnerabilidade perante as forças do Mal.
Basta ler sobre exorcismos reais e pesquisar atentamente sobre eles ao longo da história para constatar que não são assim tão raros.
O livro teve sua primeira adaptação cinematográfica nos Estados Unidos em 1973, com roteiro do próprio Blatty.
Tive o privilégio de o ver remasterizado, em 2003, no Braga Parque, numa tarde de folga do trabalho,com chuva e frio. Perfect!
A clássica foto a preto e branco do padre Merrin a chegar a casa de Regan
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